quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Heróis de quatro patas: como os cães contribuíram para a exploração espacial

Aniversário de morte da cadela Laika relembra o legado de inúmeros cães que deram suas vidas para que a ciência descobrisse se a sobrevivência humana no espaço era ou não possível


(Galileu) Em 3 de novembro de 1957, numa fria base soviética de lançamento de foguetes no Cazaquistão, Laika era preparada para ser mandada para o espaço. O programa espacial da União Soviética ia de vento em popa: um mês antes, os russos haviam lançado o primeiro satélite da história, o Sputnik 1. Depois do êxito, e diante de uma humanidade embasbacada, Nikita Kruschev, então líder do bloco comunista, anunciou o lançamento de uma segunda nave – desta vez, com uma passageira. Laika, que poucos meses antes vagava pelas ruas de Moscou, se tornaria o primeiro animal terráqueo a se aventurar pelo vazio sem gravidade do espaço.


A rapidez com que tudo foi planejado acabaria sendo fatal para o destino de Laika. Para comemorar os 40 anos da revolução russa com uma missão simbólica, Kruschev deu apenas um mês a seus cientistas para planejar a delicada operação. Muitos detalhes deveriam ser acertados para que a cadela sobrevivesse: era preciso que ela vestisse um traje adequado; um sistema térmico eficiente era necessário, para evitar o superaquecimento do compartimento interno; um gerador de oxigênio e também um captador de gás carbônico; comida em forma de gelatina, sem contar todo o aparato necessário para o retorno. Tudo isso era um desafio para a tecnologia da época.

Durante a missão, as autoridades soviéticas divulgavam estar tudo bem com Laika, e diziam que a cadela orbitaria a Terra por alguns dias e depois retornaria à superfície em um paraquedas. Mas o que de fato aconteceu foi bem diferente disso: ela morreu cerca de 7 horas depois da decolagem, devido ao superaquecimento e ao estresse. O fato é que os envolvidos com o planejamento do Sputnik 2 já sabiam que Laika jamais voltaria – em um tempo tão curto, era impossível fazer uma nave que funcionasse corretamente e ainda reentrasse na atmosfera.


Depois de morta, a cadelinha deu 2.570 voltas na Terra, e seu corpo se queimou junto com a espaçonave, cerca de cinco meses mais tarde. Além de Laika, outros cães russos ficaram famosos e viraram verdadeiros heróis por suas façanhas espaciais, e nenhum deles morreu por isso: Belka e Strelka foram lançadas em 1960 a bordo do Sputnik 5, passaram um dia em órbita e retornaram vivas à Terra – foram os primeiros animais a “ir e voltar”; Veterok e Ugolyok ficaram incríveis 22 dias no espaço em 1966 na nave Kosmos 110, um recorde para os cães, que só foi quebrado por humanos sete anos mais tarde.

Mas, afinal, qual era o motivo de enviar cachorros ao espaço? Estima-se que cerca de 50 cães tenham embarcado em naves espaciais soviéticas durante as décadas de 50 e 60. A intenção dos cientistas era estudar os efeitos da gravidade zero nos corpos dos animais, para então determinar se seria possível o envio de seres humanos ao espaço.

A morte de Laika não foi em vão: os equipamentos que monitoravam seus sinais vitais e outros movimentos indicaram que sim, um animal consegue sobreviver em situação de microgravidade. Seu sacrifício possibilitou que, em 1961, Iuri Gagarin se tornasse o primeiro homem a deixar a Terra.


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