A tripulação da Estação Espacial Internacional escolhe com antecedência quais feriados deseja respeitar atualmente, devido à pluralidade de religiões
(GHX/Terra) Quarenta e cinco anos atrás, em 24 de dezembro de 1968, o astronauta Jim Lovell declarou: “A grande solidão é inspiradora e faz você perceber o que você tem lá na Terra". As palavras tinham sentido profundo. Naquele ano, os Estados Unidos haviam invadido o Vietnã. Naquele momento, a primeira nave terrestre a orbitar a Lua, a Apollo 8, era a mensagem de paz e esperança que as pessoas buscavam ao olhar para os céus. Em transmissão ao vivo, os astronautas mostraram fotos da Terra e da Lua e leram trechos do livro de Gênesis. Foi o primeiro Natal que seres humanos celebraram no espaço, já de olho no presente do ano seguinte: a Lua.
Desde então, diversas missões passaram o Natal no espaço. A primeira expedição da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) comemorou a data no ano 2000. A partir daí, a ISS abrigou celebrações natalinas todo ano, com votos de felicidade, chapéus vermelhos e até ceias especiais. Neste ano, não será diferente. “A tripulação terá algum tempo livre para celebrar o Natal e o Ano Novo. A tripulação sempre escolhe com antecedência quais feriados deseja respeitar, então cada expedição é diferente”, afirma Josh Byerly, relações públicas da Nasa.
Esse cuidado na escolha de feriados se deve à pluralidade de religiões e nacionalidades que convivem na ISS. A Expedição 38, que se encontra agora a bordo da estação, é composta por três russos, dois americanos e um japonês. Nos Estados Unidos, celebra-se o Natal em 25 de dezembro. Na Rússia, cuja principal religião, a Igreja Ortodoxa Russa, segue o calendário juliano, comemora-se usualmente em 7 de janeiro. No Japão, país com poucos adeptos de religiões cristãs, a data não é celebrada com o mesmo afinco.
Além das peculiaridades de cada tripulante, a celebração de Natal da ISS ainda deve observar as limitações impostas pelo ambiente de microgravidade na comida. Mas esqueça aqueles alimentos espaciais mais primitivos. No início da década de 1960, a comida servia apenas para fornecer os nutrientes necessários. Ela se dividia basicamente em dois formatos: pastas espremidas de tubos e sugadas por meio de canudos e cubos mastigáveis de alimentos comprimidos e desidratados. Com o prolongamento do tempo das missões, a comida também precisou evoluir. Atualmente, pode-se realizar uma ceia de Natal farta. O peru defumado, por exemplo, faz parte do cardápio normal fornecido pela Nasa. “Eles têm todos os tipos de comida a bordo, então podem escolher o que quiserem comer”, explica Byerly.
Dos tubos e cubos de comida, houve grande avanço. Hoje os astronautas dispõem de alimentos reidratáveis (sopas, por exemplo), termoestabilizados (atum), irradiados (carnes) e em forma natural (biscoitos). Condimentos como catchup, mostarda e maionese ficam disponíveis em sachês. Sal e pimenta podem ser usados em forma líquida - tudo para que grânulos ou cristais não saiam voando. Para beber, há sucos, água e café, já que refrigerantes não podem enfrentar a microgravidade e bebidas alcoolicas não passam no veto das agências espaciais - nem em celebrações como o Natal. Mas uma barreira ainda não foi vencida pela comida espacial: a refrigeração. Não há refrigeradores para a comida na ISS.
Cada expedição celebra a data de uma maneira. Normalmente, dias antes, os tripulantes começam a decorar a estação, com meias e até árvore de Natal. Na folga, os astronautas aproveitam seu tempo para conversar com as famílias, confraternizar, curtir um tempo longe dos experimentos e enviar mensagens de paz e esperança para os terráqueos.
No ano passado, o astronauta canadense Chris Hadfield decidiu inovar: gravou, munido de seu violão, uma canção natalina, Jewel in the Night (“Joia da Noite”, em tradução livre), e publicou-a na internet na véspera de Natal. Neste ano, não haverá o violão de Hadfield, mas não faltará a tradicional mensagem da tripulação, mais uma vez lembrando, a distância, que belo presente é o planeta Terra.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário