terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Astronomia (artigo de 1902)

Artigo escrito por José Brazilício de Souza para o jornal Sul-Americano - Florianópolis/SC de 17 de agosto de 1902.)

(IYA2009 / Costeira1) A astronomia não é uma ciência isolada; é a fonte perene de que dimanam todas as ciências. A ela intimamente se prendem a física, a geologia, a mineralogia, a cronologia e tantas outras ciências que hoje abrem o seu santuário à nossa curiosidade.

Parece ter nascido lá para os lados do oriente, nessas regiões onde provavelmente descerrou-se também a crisálida da humanidade.

No estado selvagem não é o homem estranho à astronomia: ele acompanha a marcha diurna do sol e o movimento anual deste astro; observa as fases da lua, e sobre elas funda o seu calendário rudimentar.

Ao atingir o estado pastoril é o céu ainda o seu indicador: os pastores do Himalaia ou do Irã consultam-no ao cair da noite ou aos primeiros albores do dia.

Caminha a civilização. Dos simples gregarios formaram as tribos, e estas abraçando a vida agrícola, se não se tornaram absolutamente sedentárias, pelo menos já têm mais apego ao solo que desbravaram e umedeceram com o suor do trabalho.

Aumenta a astronomia, o seu campo de observação, tornam-se mais patentes as suas vantagens.

A agricultura tem necessidade de conhecer as estações, precisa fixar a época das sementeiras, a do corte das arvores, a das chuvas periódicas, e quem senão a astronomia - pela observação do sol, da lua ou das estrelas mais brilhantes - poderia fornecer-lhe tão preciosos elementos?

Decorrem os séculos, e a civilização não para. Congregam-se as tribos às margens dos grandes rios e dão origem às nações. É então do Nilo, do Tigre, do Ganges ou do Yang-Tse que os membros da classe sacerdotal, homens superiores, depositários dos primeiros vagidos da ciência, perscrutam a imensidade, reconhecem o movimento próprio dos cinco planetas visíveis, e, baseando-se nas fases lunares, criam a semana, consagrando cada um dos dias de que ela se vompõe aos mesmos planetas e mais ao sol e à lua.

Se analisarmos as várias teogonias dos antigos povos, e mesmo a dos gregos, que os romanos adotaram, veremos que todas elas se apóiam mais ou menos nas observações astronômicas, que os seus deuses principais se identificam com os astros mais brilhantes do firmamento.

Os filósofos gregos entregaram-se também ao estudo dos astros, mas, levados pelas aparências, não chegaram a compreender o mecanismo celeste.

Teve a mesma sorte a escola de Alexandria. Ptolomeu apresentou o seu sistema planetário, que por algum tempo foi aceito, e, todavia este e o do astrônomo dinamarquês Tycho-Brahe, estavam muito longe da realidade, eram verdadeiros óbices ao progresso da astronomia matemática.

Chegou então Copérnico, e a luz se fez. Estava finalmente desvendado o mistério que por tantos séculos zombara da curiosidade humana.

Desde essa época segue a astronomia uma brilhante estrada, realizando dia a dia as mais estupendas conquistas, penetrando mais e mais nos domínios do infinito.

Hoje a astronomia não é apanágio de uma determinada classe; não tem segredos para quem se der ao prazer de interrogá-los. O céu desliza vagarosamente sobre as nossas cabeças, e os nossos olhos não se fartarão de contemplar as belezas que ele encerra.

Se a geografia alarga-nos o espírito mostrando-nos que além da terra em que nascemos há outras regiões, outros povos, outros climas; quanto não temos alucrar com o estudo da astronomia, que nos conduz o espírito a outros mundos tão distantes de nós, a outros sóis tão diferentes desse que nos aquece e ilumina!

E que efeito moral não produz em nós esta divina ciência! Habitua-nos a olhar para o nosso globo como para um átomo perdido no vácuo imenso; ensina-nos a ser tolerantes para com os nossos irmãos na pesquisa da verdade; mostranos as grandezas e honrarias humanas por um prisma que as reduz a dimensões microscópicas.

Felizes aqueles que sabem ler, mesmo soletrando, os caracteres luminosos que a noite inscreveu na abóboda celeste!

http://www.astronomia2009.org.br/images/recursos/textos/a_astronomia.pdf

http://www.costeira1.astrodatabase.net/brazilicio/agenda/sul17ago1902.htm

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