segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Primeiras fotos da face oculta da Lua completam meio século

Imagens obtidas por satélite soviético marcam período de vantagem sobre americanos na corrida espacial


(Estadão) Há 50 anos pesquisadores russos recebiam as primeiras imagens do lado oculto da Lua. As fotos borradas, obtidas pela sonda soviética Luna 3, revelaram uma fisionomia muito diferente da face visível, sempre voltada para os telescópios da Terra.

Até então, os cientistas conheciam os mares da Lua - planícies amplas e áridas de rocha basáltica e origem vulcânica. Mas, na face oculta, descobriram um relevo acidentado, repleto de montanhas, e com dois vales escuros, conhecidos desde então como Mar de Moscou e Mar dos Desejos.

"Ninguém sabe porque o relevo é tão diferente nos dois hemisférios", afirma o astrônomo Fernando Roig, do Observatório Nacional, no Rio. Ele enumera os mistérios encerrados no corpo celeste mais próximo à Terra e que, por isso, deveria esconder menos segredos.

HISTÓRICO
Foram sombrias as primeiras previsões sobre o sucesso da missão Luna 3, logo após o lançamento em Baikonur, no Cazaquistão. Mal deixou a atmosfera, no dia 4 de outubro de 1959, a sonda apresentou problemas técnicos: o sinal de rádio tinha a metade da potência esperada. Para agravar a situação, o módulo aquecia mais rápido do que o previsto.

Felizmente, o sinal fraco foi suficiente para enviar os dados. Comandos de emergência também permitiram baixar a temperatura de 40°C para 30°C.

A missão ocorreu durante a Lua Nova, quando a face oculta permanece iluminada pelo Sol. Células fotoelétricas denunciavam a posição da estrela que fornecia o referencial para orientar o módulo no espaço.

Os sensores da sonda identificaram o ângulo ideal para as fotos no dia 7 de outubro. A câmera funcionou durante 40 minutos. Tinha duas lentes: uma capaz de focar todo o disco lunar e outra que registrava detalhes na superfície.

O aparato não podia ser mais simples. As fotos permaneciam registradas em filme 35 milímetros resistente à radiação e à variação térmica. Depois, um dispositivo mecânico revelava o material dentro da sonda.

Um scanner primitivo, construído com um tubo de raios catódicos, semelhante ao encontrado em televisores, varria o filme revelado e transformava as informações ópticas em sinais elétricos, enviados então para a Terra. O sinal era decodificado e as imagens, reconstruídas. Chegaram 29 fotografias.

SIGNIFICADO POLÍTICO
O programa Luna começou em janeiro de 1959 e terminou em agosto de 1976. Compreendeu 24 missões que obtiveram êxitos históricos.

Em setembro de 1959, a sonda Luna 2 espatifou no solo lunar, tornando-se o primeiro objeto artificial a chegar ao satélite. Outras três sondas tiveram o mesmo destino, antes de um módulo tocar com suavidade a superfície (Luna 9).

Também pertence ao programa o pioneirismo de trazer de volta à Terra uma sonda que aterrissou na Lua (Luna 20).

Ao analisar os resultados da missão soviética, Roig recorda que o esforço científico esteve sempre associado a um forte significado político. "Os êxitos marcam a fase em que os russos estiveram a frente dos americanos na corrida espacial", observa o astrônomo.

Mas a hegemonia soviética durou pouco. As conquistas americanas no envio de voos tripulados à Lua e as missões para Marte marcaram a reviravolta no jogo.

A historiadora Ana Maria Ribeiro de Andrade, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Rio, também sublinha a motivação militar de muitos investimentos na corrida espacial durante a Guerra Fria. "O conhecimento adquirido foi usado depois na construção de mísseis e satélites espiões", afirma.

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