quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Colombo e a forma da Terra

Mapa-mundi estilo 'T-O' do século XII, com o Oriente para cima




(Carlos Orsi - Estadão) Num 12 de outubro 518 anos atrás, Cristóvão Colombo pôs os pés no Caribe, acreditando, a princípio, ter chegado ao sul da Ásia. Antes de se lançar nessa viagem de descoberta, ele teve de vencer vários obstáculos, entre eles a crença medieval de que a Terra era chata e de que sua viagem o levaria para além da borda do mundo… certo?

Errado. Embora seja difícil saber o que o homem comum, o camponês ou artesão da Europa ocidental século XV achava da forma da Terra (se é que pensava alguma coisa a respeito), estudiosos e eruditos estavam convencidos, já há um bocado de tempo, de que nosso planeta é redondo.

Não só a medição da circunferência da Terra por Eratóstenes era conhecida, como os argumentos de Aristóteles — que, entre outras coisas, chamavam atenção para a sombra circular projetada pela Terra na Lua, durante eclipses lunares — eram aceitos e respeitados.

Costuma-se comentar muito também a respeito da oposição religiosa — especificamente, dos primeiros teólogos cristãos — à ideia de uma Terra redonda, mas o consenso atual é de que essa oposição parece ter sido muito limitada. Em seu colossal volume Uma História da Guerra entre Ciência e Teologia na Cristandade, Andrew White, escrevendo no final do século 19, menciona as ideias do monge egípcio Cosmas, para quem a Terra tinha a forma de um ” paralelogramo plano, cercado pelo oceano”.

No mais recente (de 1992) Céu e Terra na Idade Média, no entanto, o medievalista alemão Rudolf Simek diz que o trabalho de Cosmas era desconhecido no Ocidente no tempo de Colombo. Santo Agostinho, por sua vez, achava que as Escrituras proibiam a existência e seres humanos do outro lado do mundo, mas não descartava a hipótese de o mundo ter um outro lado.

A oposição a Colombo era de ordem mais prática que filosófica: as estimativas de distância entre a Península Ibérica e o Japão — ou a costa do continente asiático — indicavam que a viagem seria uma temeridade.

Colombo estava, de fato, trabalhando com números otimistas demais. Eratóstenes havia calculado a circunferência da Terra como sendo de 250.000 estádios (“estádio” é uma antiga medida de distância). Segundo a astrônoma Irene Fischer, o navegador usou uma conversão errada de estádio para milha, e acabou chegando a uma circunferência quase 30% menor que a real.

Não estivesse a América no meio do caminho, Colombo e seus companheiros de expedição provavelmente teriam morrido no mar.

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