Em 150 anos, os telescópios do Observatório Astronómico de Lisboa ficaram praticamente cegos com a luz da cidade que cresceu em sua volta e o seu diretor lamenta a falta de dinheiro para tornar o espaço num "museu vivo".
(DN - Portugal) Inaugurado em 1861, o Observatório, localizado na Tapada da Ajuda, estava inicialmente fora do alcance das luzes da cidade de Lisboa, o que, com o passar dos anos, mudou completamente.
"Hoje, a qualidade do céu é tão má" que o Observatório de Lisboa, e todos os observatórios clássicos, encomendam a observação em outros lados e dedicam-se hoje a "tratar os dados e a tirar conclusões", disse à agência Lusa o seu diretor, Rui Agostinho.
Segundo o responsável, o Observatório tem um "património histórico de excelência" herdado do terceiro quartel do século XIX. "Os instrumentos podem ser vistos no seu contexto original, o prédio é o original, o jardim também", explicou.
Rui Agostinho afirmou que o potencial para se transformar em museu já foi reconhecido por especialistas internacionais. "O Observatório deveria ser um museu dos tempos modernos, um museu vivo", defendeu Rui Agostinho, reconhecendo que, "apesar de serem instrumentos muito especiais, ver telescópios velhos não é muito apelativo".
Assim, defende que quem visitasse o Observatório/Museu deveria ter oportunidade de ver "a ciência aplicada" e os instrumentos a continuarem a produzir conhecimento.
Para isso, será preciso mais dinheiro para recuperar o património e para reforçar o quadro de pessoal.
"Há muita gente que quer fazer coisas connosco e que quer aprender, mas somos poucos", referiu Rui Agostinho, para quem um projeto museológico no Observatório não poderia estar de portas abertas apenas no horário do expediente normal.
Contudo, o Observatório, com cerca de dez pessoas -- e duas vagas para investigador por preencher --, não "tem capacidade para funcionar a tempo inteiro", lamentou.
O Observatório chegou a ter um orçamento próprio concedido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, mas hoje recebe apenas uma fatia do orçamento total da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde está integrado.
Um maior investimento justificar-se-ia também pelo "serviço público" que o Observatório, responsável pela medição e manutenção da Hora Legal através de relógios atómicos, faz ao país, defendeu Rui Agostinho.
Os meios do Observatório, que emite também pareceres quando lhe são pedidos, servem ainda a cerca de 20 projetos de investigação. Rui Agostinho referiu como exemplo pareceres para serem utilizados em tribunal: "Se um condutor diz que um acidente foi provocado por ter ficado encandeado pelo Sol, com as coordenadas e a hora podemos comprovar ou não se aconteceu assim".
A sessão comemorativa dos 150 anos realiza-se na sexta-feira à noite. Rui Agostinho fará uma palestra sobre a história do Observatório e guiará uma visita pelas instalações.
Se o tempo ajudar, haverá também observação do céu com telescópios.
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