sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Rússia celebra 50 anos de voo histórico do 'cosmonauta esquecido'

(AFP / Terra) A Rússia celebra, no próximo sábado, os 50 anos da viagem espacial de Gherman Titov, o segundo russo a orbitar a Terra, um feito histórico ofuscado pelo primeiro voo orbital de seu amigo e rival Yuri Gagarin, meses antes. Sua aventura foi tão impressionante quanto a jornada que levou Gagarin à imortalidade e provou que o homem pode passar muitos anos em órbita. No entanto, Titov levou para o túmulo a decepção de ter sido superado na corrida para se tornar o primeiro homem a viajar ao espaço.

Com apenas 25 anos, Titov orbitou a Terra 17 vezes após o lançamento, em 6 de agosto de 1961, de um voo que durou mais de 25 horas. Gagarin fez apenas uma única órbita e seu voo, em 12 de abril, levou 108 minutos.

Titov foi o primeiro homem a passar um dia no espaço e tirou fotos em órbita. Ele foi também a primeira vítima do mal-estar espacial. Até hoje, ele é o humano mais jovem a voar ao espaço.

Na época da Guerra Fria, o feito de Titov assombrou os Estados Unidos. Em 5 de maio de 1961, Alan Shepard se tornaria o primeiro americano e o segundo homem a viajar ao espaço, mas seu voo levou apenas 15 minutos e foi suborbital. Mas as comemorações da façanha de Titov - que morreu de ataque cardíaco no ano 2000 - devem ser consideravelmente mais discretas do que a série de eventos marcados para comemorar o aniversário do voo de Gagarin, em abril passado.

A principal será a inauguração de um museu em memória de Titov em sua cidade natal de Polkovnikovo, na região de Altai, sul da Sibéria, em uma cerimônia da qual devem participar ex-cosmonautas e sua viúva, Tamara. A galeria fotográfica Fotosoyuz também abriu uma exposição sobre a história da fotografia espacial em homenagem a Titov, que registrou as primeiras imagens da Terra vista do espaço.

Selecionados após anos de testes exigentes de uma longa lista de centenas de pilotos de caça soviéticos, Gagarin e Titov emergiram como os dois candidatos mais jovens a se tornar o primeiro homem a viajar ao espaço. As autoridades soviéticas só tomaram a decisão a favor de Gagarin na véspera do voo. Em um vídeo de arquivo, Titov não faz qualquer tentativa de disfarçar sua decepção, acenando com a cabeça em sinal de desaprovação enquanto a decisão oficial era anunciada.

"Jornalistas disseram que eu fiquei muito feliz por Gagarin", disse Titov em um raro comentário, em 1985. "É claro, não existia nada do tipo", acrescentou.

Especialistas espaciais russos sempre reconheceram que Titov estava fisicamente tão preparado quanto Gagarin para o voo, mas as autoridades soviéticas teriam se preocupado com a personalidade introvertida de Titov, pela menor educação proletária e por ter um nome que não soava russo. O pai de Titov deu ao filho o nome de Gherman não por causa de qualquer vínculo com a Alemanha, mas em homenagem a um personagem do escritor Alexander Pushkin em sua obra-prima, A Dama de Espadas. Para muitos, isto custou a Titov um lugar na História.

"Sempre sou perguntada como Gherman lidou" com o fato de não ter sido o primeiro homem no espaço, disse a viúva, Tamara Titova, em declarações a um documentário exibido em 2010 pela TV russa. "É claro que sofreu por não ter sido ele. Estava pronto para realizar esta missão", emendou.

"Esta foi a pergunta eterna de Gherman. "Por que você não foi o primeiro?", lembrou ela. "Sua resposta era, 'havia apenas um lugar na nave, então não poderíamos voar juntos', acrescentou.

O voo de Titov a bordo do Vostok-2 foi um sucesso estrondoso, embora ele tenha tido que lidar com as fortes náuseas provocadas pelo mal-estar espacial, um problema que ainda aflige astronautas modernos. A morte de Gagarin, em um acidente de avião, em 1968, foi um choque, não só por ter sido a perda de um amigo, mas porque as autoridades soviéticas o afastaram de sua maior paixão: voar. Após a morte de Gagarin, não queriam arriscar perder outro herói.

Titov não digeriu bem o colapso da União Soviética, mostrando-se particularmente incomodado com o estado da indústria espacial na nova Rússia, e tornou-se membro do parlamento russo pelo Partido Comunista. Ele sonhou com um novo feito: voltar a fazer um voo orbital e superar John Glenn como o homem mais velho a viajar ao espaço, mas morreu antes de chegar perto de realizar seu sonho derradeiro.
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