terça-feira, 10 de abril de 2012

Cosmonautas russos no Rio

Pouco tempo depois da visita de Yuri Gagarin ao Brasil, foram restabelecidas as relações diplomáticas entre os dois países

(Diário da Rússia) No ano passado foi celebrado o jubileu de 50 anos do primeiro voo do homem ao espaço, realizado pelo cosmonauta soviético Yuri Alekseevich Gagarin. No entanto, pouca gente sabe que naquele mesmo ano de 1961 Gagarin visitou o Brasil.

Em meados de 1961, quando o Brasil e a União Soviética não tinham relações diplomáticas, já que elas haviam sido interrompidas pelo Governo Brasileiro em 1947, Yuri Gagarin, então em visita a Cuba, recebeu de forma inesperada um radiograma de Moscou com a recomendação de visitar o Brasil a convite do Governo Brasileiro. A sua visita começaria pelo Rio de Janeiro.

Como foi descrito pelo jornalista P. Barashev, o avião de Gagarin aterrissou no aeroporto do Rio de Janeiro à noite, sendo aguardado por uma multidão de 120 mil pessoas. Todo o trajeto até o aeroporto estava cheio de gente, que agitava bandeiras e cartazes com o retrato de Gagarin e soltava fogos de artifício que enchiam as ruas e as praças com grandes explosões. Havia viaturas de polícia e carros de bombeiros estacionados nos principais cruzamentos e pontes do trajeto. Para conter a multidão, ávida para ver Gagarin, a polícia instalou um cerco em torno do melhor hotel da cidade, o Copacabana Palace. O sorriso único e encantador de Yuri Gagarin e o seu jeito simples e fácil de lidar com as pessoas haviam conquistado o coração dos cariocas.

Passados alguns dias, Gagarin desembarcou no aeroporto da então nova capital, Brasília, sendo recebido pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil. Assim que Gagarin saiu do avião e entrou no carro, o veículo foi levantado pela multidão e levado nos braços até o palácio presidencial. O cosmonauta soviético foi condecorado com a mais alta honraria dos oficiais das Forças Armadas do Brasil, a Ordem do Mérito Aeronáutico.

Assim como em outros lugares, Yuri Gagarin precisou responder a muitas perguntas, uma das quais era sobre como ele poderia contribuir para a paz. E Gagarin respondeu: “Sozinho, um homem não pode triunfar numa questão tão importante para o planeta como a luta pela paz mundial. Ela deve contar com a participação das massas populares de todos os países. Só assim as nuvens da guerra serão dissipadas para sempre.”

É notável que muito em breve, em 31 de novembro daquele mesmo ano de 1961, as relações diplomáticas entre a União Soviética e o Brasil seriam restabelecidas, um feito que muito provavelmente tenha sido favorecido de forma considerável pela visita de Yuri Gagarin ao Brasil.

Após essa que, sem exageros, pode ser chamada de uma visita histórica, o Brasil recebeu outras visitas de alguns dos famosos cosmonautas russos.

Em particular, é preciso falar sobre a visita do cosmonauta Aleksei Arkhipovich Leonov, que em companhia do astronauta americano Thomas Stafford participou do 51.° Congresso Internacional de Astronáutica, realizado aqui no Rio de Janeiro em outubro de 2000. O Congresso, que reuniu delegações de 47 países, convidou Leonov e Stafford não apenas como autoridades em pesquisas espaciais de seus respectivos países, mas também como comandantes das tripulações da lendária missão espacial soviético-americana Soyuz-Apollo. Na véspera da abertura do evento, o cosmonauta soviético e o astronauta americano realizaram um passeio pelas areias da praia de Ipanema, a bordo de uma cópia exata do veículo lunar americano usado na missão espacial Apollo 13. Esse fantástico “passeio lunar” foi uma verdadeira sensação na cidade, ficando marcado na memória daqueles que tiveram a oportunidade de vê-lo.

Já no ano passado, dois outros cosmonautas russos, Oleg Kotov e Pavel Vinogradov, vieram ao Rio de Janeiro a convite do IV Fórum Internacional de Astronomia e Astronáutica, realizado no município de Campos dos Goytacazes entre os dias 19 e 24 de abril de 2011. Durante a sua estada no Rio, entre os dias 19, 20, 22 e 24 de abril, eles participaram de uma série de encontros com representantes de autoridades locais, círculos científicos e sociais e seus compatriotas russos. Para honrar a presença dos ilustres convidados na cidade, o Consulado Geral da Rússia organizou uma recepção solene com a apresentação formal dos cosmonautas e a mostra de um documentário sobre o primeiro voo do homem ao espaço. Já durante sua visita ao Planetário do Rio de Janeiro, onde o Consulado Geral havia organizado exposição de fotografias em homenagem aos 50 anos do voo de Gagarin, os cosmonautas russos contaram ao auditório local a história e a atual situação da cosmonáutica russa.

Em Campos, além da participação dos cosmonautas russos, aconteceu a presença do astronauta americano Charles Duke e do astronauta brasileiro Marcos Pontes. Este último acompanhou Kotov e Vinogradov praticamente em todos os seus encontros e eventos tanto no Rio de Janeiro quanto em Campos dos Goytacazes, o que se tornou uma prova viva da bem-sucedida parceria estratégica entre Rússia e Brasil. Vale lembrar que Marcos Pontes visitou a Estação Espacial Internacional integrando a tripulação da nave espacial russa Soyuz-TMA-8, liderada por Pavel Vinogradov.

Os cosmonautas russos deram dezenas de entrevistas a diversos veículos da imprensa brasileira, como “Jornal do Brasil”, “Jornal da Semana”, filial brasileira da Voz da Rússia e TV PUC-RIO, além das agências de notícias russas RIA Novosti e ITAR-TASS.

A estada dos cosmonautas russos no Brasil foi acompanhada por uma série de eventos culturais e educacionais, incluindo uma mostra de vídeos documentais sobre o voo de Gagarin e a apresentação de artistas da Escola de Balé do Bolshoi de Joinville. A visita da delegação russa ao Brasil recebeu uma grande cobertura por parte da imprensa, e, no geral, teve uma resposta bastante positiva, reforçando a boa imagem da Rússia no Brasil e promovendo os suas realizações nas áreas de ciência e tecnologia.

Como resultado da viagem, os cosmonautas russos discutiram com os parceiros brasileiros a questão da criação, no Rio de Janeiro, de uma base temporária experimental para o descanso e a reabilitação de cosmonautas russos, após a sua longa permanência no espaço. A ideia era organizar viagens de três a quatro semanas durante o verão brasileiro, entre os meses de novembro e março. Supunha-se que o primeiro a usar o projeto seria o filho do cosmonauta soviético Alexander Volkov, Sergei Volkov, que retornaria à Terra após um período de 6 meses de permanência a bordo da Estação Espacial Internacional. No entanto, devido a problemas financeiros, a ideia não pôde ser levada à frente em 2012. Mas, quem sabe, no futuro, o projeto ainda possa ser realizado...

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