quarta-feira, 15 de maio de 2013

Há 55 anos, primeiro laboratório espacial ajudou a compreender a atmosfera



(GHX/Terra) As missões espaciais de hoje, especialmente às de observação da Terra e do universo, devem muito a uma inovação de 55 anos atrás. Em 15 de maio de 1958, a União Soviética dava mais um passo à frente dos Estados Unidos e lançava o primeiro laboratório espacial da história. Batizado de Sputnik 3, ele sucedeu aos modelos 1 e 2 com grandes avanços: era um completo laboratório multiuso de ciência espacial.

"O Sputnik 3 foi o primeiro satélite da União Soviética dedicado ao estudo das camadas superiores da atmosfera e coletou dados científicos importantes que permitiram um melhor entendimento das condições em que os satélites poderiam operar", explica o astrofísico Thyrso Villela, pesquisador na Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O satélite foi lançado dentro do chamado Ano Geofísico Internacional, que se estendeu de julho de 1957 a dezembro de 1958. Em formato cônico, tinha 1,73 metros de diâmetro, 3,58 metros de comprimento e 1.340 quilos de massa, superando os 83,6 kg e os 543,5 kg dos Sputnik 1 e 2, respectivamente.

O contexto histórico da época fez o lançamento do Sputnik 3 não se limitar apenas à conquista científica. Em plena Guerra Fria, o satélite de quase 1,4 toneladas mostrou que seria possível para a URSS lançar mísseis intercontinentais sobre os EUA, lembra Villela.

Avanços
​Mas os ganhos científicos superaram o medo. Em órbita por dois anos, o laboratório representou uma das primeiras missões de longa duração, o que contribuiu para o entendimento de problemas relacionados à operação de artefatos mais complexos no espaço. A capacidade de colocar em órbita satélites por longos períodos proporcionou a projeção de diferentes missões espaciais.

Eram 12 instrumentos a bordo, responsáveis por vários tipos de medidas, como as relacionadas ao campo magnético da Terra e a micrometeoritos. Os dados coletados contribuíram para um melhor entendimento da constituição das camadas superiores da atmosfera e permitiram ter ideia da existência dos cinturões de radiação que envolvem a Terra. "Foi possível, por exemplo, estudar os problemas que esses cinturões causam nos satélites e, com isso, definir órbitas menos sujeitas a essa influência", argumenta Villela.

Objeto D
No planejamento soviético, o satélite batizado com o número 3 deveria ser lançado primeiro. Porém, desafios no desenvolvimento do seu sistema de telemetria atrasaram o projeto, e o Objeto D, como era chamado nessa fase, acabou sucedendo ao Prosteyshiy Sputnik-1, lançado em outubro de 1957, e ao Tso Sputnik 2 (PS-2), que foi à órbita no mês seguinte. Foi a estratégia soviética para se antecipar aos norte-americanos.

Quando tudo estava pronto, a ejeção foi programada para 27 de abril de 1958. O veículo de lançamento era a versão 8A91 do foguete R-7, posicionado em Tyuratam, no Cazaquistão. A operação, contudo, durou apenas 88 segundos. A subida do foguete veio acompanhada de um efeito de vibrações de ressonância longitudinal. Conforme elas ganharam intensidade, os tanques de combustível foram esvaziados pouco mais de um minuto após o lançamento.

A falha, entretanto, não desestimulou a iniciativa soviética. Menos de um mês depois, o foguete de backup do Objeto D foi ao ar, entrando em órbita com uma inclinação de 65,2 graus.

Em maio de 1959, o Sputnik 3 deixou de retornar informações úteis, embora seu transmissor de rádio continuasse ativo, alimentado por células solares. Em abril do ano seguinte, em decomposição, o satélite ingressou na atmosfera da Terra e foi destruído por aquecimento por atrito. A estratégia soviética prosseguiu com o Sputnik 4, lançado em 15 de maio de 1960, com 4.540 quilos de massa - um novo recorde para a época.

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