quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Padre português teve papel importante no primeiro tratado entre a China e a Rússia

O diretor do Planetário de Pequim, Zhu Jin, chamou-lhe "um grande amigo português"

(IOnline) Um missionário jesuíta português conhecido na antiga corte imperial chinesa como músico, astrónomo, matemático e diplomata desempenhou papel importante nas negociações do primeiro acordo fronteiriço entre a China e a Rússia, no final do século XVII.

O invulgar protagonismo do padre Tomás Pereira (1645-1708) no Tratado de Nerchinsk foi evocado na segunda-feira na capital chinesa pelo investigador Jin Guoping, numa homenagem promovida pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), a Embaixada de Portugal na China e o Planetário de Pequim.

Tomás Pereira e um padre francês, J.F. Gerbillon, foram escolhidos pelo imperador Kangxi para participarem nas referidas negociações e, segundo Jin Guoping, o missionário português "desempenhou bem o papel de intérprete-tradutor e de conselheiro de direito internacional".

"O que mais impressionou o imperador Kangxi foi o facto de as contendas sino-russas terem sido resolvidas com um tratado internacional", enquanto antes "esta paz só se conseguia com a guerra", afirmou o investigador chinês.

Kangxi, um dos mais importantes imperadores da última dinastia e que governou a China durante 61 anos, até 1722, considerava Tomás Pereira "um companheiro exímio" e "sempre leal".

Nomeado mandarim, com um estatuto equiparado a vice-ministro, Tomás Pereira é também considerado "o introdutor da música europeia na China".

Aquele padre português "foi responsável pela criação dos nomes chineses para os termos musicais do Ocidente, muitos dos quais usados ainda hoje" e "um exímio executor musical e construtor de instrumentos musicais", disse Jin Guoping, destacando o órgão da Igreja católica do Sul (Nantang), em Pequim.

O embaixador de Portugal na China, Jorge Torres-Pereira, salientou que Tomás Pereira constitui "um caso invulgaríssimo de relacionamento de um ocidental com o imperador da China" e "extremamente relevante no processo de reconhecimento mútuo entre a cultura ocidental e a chinesa".

Tomás Pereira é "uma figura fascinante, possuidor de um largo espetro de talentos, um verdadeiro ‘homem dos sete instrumentos'", disse o diplomata.

Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, qualificou Tomás Pereira como "um premonitório exemplo de cooperação cultural e científica".

O diretor do Planetário de Pequim, Zhu Jin, chamou-lhe "um grande amigo português".

"Este evento reveste-se de importante significado para o aprofundamento da nossa amizade secular e da nossa futura cooperação", afirmou Zhu Jin.

A homenagem a Tomás Pereira decorreu no antigo Observatório Astronómico de Pequim, situado na zona oriental da principal avenida da capital chinesa, e onde o padre português trabalhou até morrer.

Entre os participantes figuravam uma dezena de académicos chineses, o presidente do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa, Roberto Carneiro, e cerca de três dezenas de sócios do CNC que iniciaram no domingo uma viagem de duas semanas à China intitulada "Os portugueses ao encontro da sua História".

A viagem, que terminará em Macau, é conduzida pelo professor e escritor António Graça de Abreu, um dos raros portugueses que viveu em Pequim no final da década de 1970.

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