segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cometas ao longo da História


(Astronomia On Line - Portugal) A aparição de um cometa brilhante tem, ao longo dos tempos, fascinado a humanidade. Mas, o que está por trás destes espectáculos espaciais? Foi só nos tempos modernos que os cientistas ficaram a conhecer o fenómeno - até então, os cometas já tinham uma longa carreira como arautos de notícias más ou mensageiros celestiais.

As primeiras observações de cometas surgem no terceiro milénio antes de Cristo. Nas culturas antigas, o seu súbito aparecimento era considerado um sinal dos deuses. E porque perturbavam a harmonia do céu estrelado, foram rapidamente considerados como um mau presságio. Na Grécia antiga, os filósofos naturais tentaram encontrar uma explicação para o fenómeno. Aristóteles (384-322 AC), cujos pontos de vista dominariam a visão astronómica e física do mundo no Ocidente durante mais de milénio e meio, acreditava que eram emanações da atmosfera da Terra.

Na Idade Média, o medo dessa "mão pesada de Deus" chegou ao seu auge; pensava-se que os cometas pressagiavam fenómenos naturais terríveis, como inundações ou terramotos. No século XVI e início do século XVII, tornaram-se dos assuntos favoritos dos antecessores dos jornais de hoje em dia. Um poema do século XV fornece uma descrição impressionante da natureza dos cometas: "Eles trazem a febre, a doença, a pestilência e a morte, tempos difíceis, a escassez e tempos de grande fome."

Estas "estrelas com cauda" também encontraram lugar na arte e foram descritos, por exemplo, na famosa tapeçaria de Bayeux, que mostra a conquista da Inglaterra por Guilherme da Normandia em 1066. Ou num fresco pelo pintor italiano renascentista Giotto di Bondone na Cappella degli Scrovegni em Pádua (1304). Ambas as representações foram inspiradas pelo aparecimento do famoso Cometa Halley, e o fresco de Giotto "Adoração dos Magos" deu origem à crença generalizada de que a Estrela de Belém foi na realidade um cometa.

A "febre de cometa" impera ainda hoje: quando o Cometa Halley apareceu no céu em 1910, como esperado, muitos temeram que a civilização seria envenenada por ácido cianídrico, que recentemente se tinha descoberto ser um componente da cauda. Os vendedores ambulantes da altura venderam "comprimidos cometa" para afastar essa eventualidade. E quando o Cometa Hale-Bopp deu um desempenho impressionante no céu da Terra em 1997, 39 membros da seita americana Porta do Céu cometeram suicídio porque acreditavam que isso permitiria com que saíssem da Terra e viajassem até uma nave espacial alienígena, que supostamente acompanhava o Hale-Bopp.

A pesquisa astronómica dos cometas foi lenta ao início. No entanto, o alemão Peter Apianus de Ingolstadt (na realidade, Peter Bienewitz, 1495-1522) foi o primeiro astrónomo dos tempos modernos a observar que as caudas dos cometas sempre apontavam para longe do Sol. Apian descreve isso no seu livro "Astronomicum Caesareum", publicado em 1540 e dedicado ao imperador Carlos V.

Algumas décadas mais tarde, o astrónomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) reconheceu que os cometas eram corpos celestes independentes: mediu a paralaxe do brilhante cometa de 1577 e assim determinou a sua distância em aproximadamente 230 raios terrestres, o que corresponde a 1,5 milhões de quilómetros. Ele havia refutado conclusivamente os ensinamentos de Aristóteles de que os cometas eram fenómenos dentro da atmosfera da Terra. Os cometas até acabaram por ser objectos translunares, o que significa estarem para lá da Lua.

Mas em que trajectória viajavam os cometas pelo espaço? Isto também manteve os investigadores intrigados durante muito tempo. Tycho Brahe foi o primeiro a acreditar que os cometas regressavam periodicamente. O famoso astrónomo Johannes Kepler (1571-1630), por outro lado, pensava que as trajectórias eram linhas rectas - e por isso contradisse as suas próprias leis que atribuíam órbitas elípticas aos planetas!

Johannes Hevelius (1611-1687), vereador de Danzig e astrónomo, acreditava - correctamente, como sabemos agora - em parábolas e hipérboles elongadas. A disputa acerca da forma correcta da trajectória é bem saliente no capa da obra "Cometographia" de Hevelius. O livro foi publicado em 1665 e também discutia a aparência e forma dos cometas, e tentava classificar as suas caudas.

Em 1680, Edmond Halley (1656-1742), na altura com 24 anos, observou um grande cometa. O amigo de Isaac Newton, que mais tarde se tornou Astrónomo Real, tentou colocar desesperadamente um cometa numa trajectória recta, como Kepler havia exigido seis décadas antes. Em vão! Durante uma reunião com Newton, Halley explicou que o cometa de 1680 tinha provavelmente uma trajectória "acentuadamente curva".

Com este achado, Edmond Halley fez novos cálculos e chegou ao resultado de que o cometa aparentemente viajava numa elipse elongada e que deveria voltar em 1758. Halley morreu em 1742 e não viveu para ver o seu triunfo da mecânica celeste: porque na noite de 25 de Dezembro de 1758, o agricultor saxão e astrónomo amador Johann Georg Palitzsch (1723-1788) descobriu um fraco ponto de luz na constelação de Peixes... O cometa, conhecido como Cometa Halley, regressa ao Sistema Solar interior (e, assim sendo, perto da Terra) a cada 76 anos. A última passagem ocorreu em 1985/86.

Isto clarificou a forma da trajectória dos cometas. Mas de onde vêm? E o que provoca estes fenómenos ocasionalmente magníficos? Em 1950, o astrónomo holandês Jan Hendrik Oort (1900-1992) suspeitava que os cometas de longo período tinham origem num reservatório que envolve o nosso sistema planetário como uma concha a uma distância de até 1,6 anos-luz. Além desta Nuvem de Oort, que ainda não foi confirmada por observação - o astrónomo Ernst Öpik da Estónia já tinha imaginado algo semelhante em 1932. E obviamente existe ainda outro local de origem para os cometas de período intermédio - a Cintura de Kuiper.

À deriva, nos confins do Sistema Solar, existem possivelmente 100 mil milhões de fragmentos de gelo e rocha com diâmetros que variam entre poucos metros e cerca de 100 km. Estes são os núcleos dos cometas. A sonda europeia Giotto foi a primeira a obter a primeira foto de um núcleo cometário de perto, quando passou a menos de 600 quilómetros do Cometa Halley.

As fotos mostravam um amendoim cósmico que media aproximadamente 15 por 6 km, extremamente escuro e coberto por uma camada de poeira com baixo albedo. Plumas de gelo em evaporação eram evidentes apenas em locais separados. O material, misturado com poeira, tem uma alta proporção de compostos orgânicos - incluindo aminoácidos, um componente essencial para a vida na Terra. Em adição, o Halley perdia cerca de 60 toneladas de vapor de água por segundo.

As missões seguintes a outros cometas - o Wild 2, por exemplo - confirmaram esta impressão: as imagens mostram sempre "batatas espaciais" cobertas por crateras cujo material à superfície é expelido para o espaço. Este material data do nascimento do sistema planetário há 4,5 mil milhões de anos atrás e permaneceu praticamente inalterado graças ao congelamento. Os cometas são, portanto, mensageiros do passado.

Acompanhemos uma destas "bolas de neve" sujas que foi catapultada para fora da Nuvem de Oort na sua viagem em direcção ao Sol. À medida que a distância diminui, a temperatura aumenta. Os gases do cometa vaporizam e formam uma atmosfera fina e estendida: a cabeleira. A cabeleira atinge um diâmetro de várias centenas de milhares de quilómetros. O cometa está agora quase ao nível da órbita de Saturno e pode ser descoberto a partir da Terra.

Finalmente, forma-se a cauda - o atributo característico de um cometa. A causa é o vento solar - um fluxo de partículas electricamente carregadas - que o Sol permanentemente sopra para o espaço a uma velocidade média de 400 km/s. A cauda vibra no espaço como uma manga de vento e por isso aponta sempre na direcção contrária à do Sol. Os cometas podem ter caudas com comprimentos de várias dezenas de milhões de quilómetros.

As fotos de cometas brilhantes, como o Hale-Bopp, mostram que basicamente existem dois tipos diferentes de cauda: a cauda recta de gás ou plasma com um brilho azulado, e a frequentemente espalhada cauda de poeira com um brilho amarelado; esta última é provocada principalmente pela pressão de luz da radiação solar. Ocasionalmente, alguns cometas têm também uma anti-cauda, escombros espaciais iluminados que o cometa deposita ao longo da sua trajectória e que aparece durante um curto período de tempo como uma linha brilhante sob condições com luz e projecção favoráveis.

Os detritos espaciais são compostos por partículas muito finas, e também rochas maiores, que o vento solar continuamente sopra do cometa. Como mencionado, o material libertado do cometa é espalhado como uma espécie de "pista de terra" no espaço. Se a Terra passa por tal campo de detritos, as partículas penetram na atmosfera e riscam o céu como estrelas cadentes.

Estes meteoros podem ser maiores, e simplesmente não arder totalmente durante a sua entrada pela atmosfera da Terra, caindo para o nosso planeta como meteoritos. E é aí que os cometas entram em jogo como reais "arautos de más notícias": o nosso planeta é bombardeado continuamente por balas cósmicas. As crateras de impacto são o testemunho destas perigosas bombas. O impacto de uma rocha espacial com 1 km de diâmetro - um núcleo cometário ou asteróide - teria consequências desastrosas. No entanto, o Cometa ISON, actualmente a aproximar-se do Sol e a aumentar de brilho, não representa perigo. No final de Dezembro, passará pela Terra a uma distância de 64 milhões de quilómetros.

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