quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A mensagem de Arecibo


(Cássio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) No último 16 de novembro, completaram-se 40 anos da famosa mensagem de Arecibo. Famosa nas décadas de 1970 e 80, ultimamente nem em propaganda de TV se fala mais nela.

Ela foi enviada ao espaço pelo radiotelescópio de Arecibo no dia 16 de novembro de 1974. Esta transmissão representou a primeira mensagem codificada enviada ao espaço sideral intencionalmente. Se você considerar transmissões de TV por exemplo, elas já existem há mais de 60 anos, mas elas escapam da Terra. Nenhuma delas foi planejada e transmitida para algum destinatário desconhecido.

Até então, apenas iniciativas individuais e toscas haviam sido feitas, como estações de rádio dizendo que estavam transmitindo para todos os povos do Universo. É interessante notar que várias ideias sérias já eram consideradas há alguns séculos. Por exemplo, o físico, matemático e astrônomo alemão Carl Gauss já tinha pensado nisso em pleno século XVIII, muito antes da invenção do rádio. A ideia dele era usar as imensas florestas siberianas para desenhar figuras geométricas regulares gigantes, como círculos , quadrados e triângulos equiláteros. Habitantes de uma civilização na Lua poderiam ver essas imagens na Terra com pequenos telescópios e, com isso, saberiam que por aqui haveria vida inteligente. Mesmo em outros planetas, com instrumentos mais potentes, outras civilizações poderiam receber a mensagem de que haveria gente capaz de engenhosidades como essa para se fazer notar. Claro que isso era inviável naquela época e nada acabou sendo feito.

Pulando já para o século XX, a mensagem de Arecibo foi concebida por Frank Drake, famoso por estabelecer a equação que leva o seu nome e nos dá uma estimativa da probabilidade de se encontrar civilizações inteligentes na galáxia. Além de Drake, Carl Sagan contribuiu para elaborá-la entre outros cientistas. Esta mensagem foi transmitida para marcar a cerimônia de reinauguração do radiotelescópio, que fora inaugurado no final do ano de 1966.

O radiotelescópio de Arecibo, que capta ondas de rádio por meio de antenas parabólicas, é o maior do mundo, com 300 metros de diâmetro, e fica em Porto Rico. Ele foi construído sobre uma cratera meteorítica no meio da selva. Como seu prato é fixo, sua capacidade de observação é limitada a uma pequena região do céu, basicamente ele enxerga o que passa sobre ele. Mesmo assim, ele foi capaz de determinar a rotação de Mercúrio, determinou o período do pulsar da Nebulosa do Caranguejo que veio a provar a existência das estrelas de nêutrons e a identificação de moléculas pré-bióticas em galáxias distantes.

Com a reforma e a reinauguração em 1974, o radiotelescópio teve suas capacidades aumentadas, passando inclusive a atuar no projeto de busca por vida extraterrestre inteligente, o famoso SETI. Foi para marcar esse "upgrade", que Drake, Sagan e colaboradores pensaram numa mensagem simples que carregasse informações de que haveria uma civilização inteligente na outra ponta da linha. A bem da verdade, a intenção da mensagem não era a de estabelecer comunicação, mas sim marcar a reinauguração. Já que iam mandar um sinal para o espaço, por que não fazer uma mensagem bacana?

A imagem transmitida após ser codificada é essa ao lado. Ela tem 1.679 dígitos, que é o produto entre dois números primos 23 (o número de colunas) e 73 (o número de linhas). A mensagem toda tinha apenas 210 bytes e levou quase 3 minutos para ser transmitida. A hora da transmissão foi escolhida para coincidir com a passagem do aglomerado globular M13 por sobre o radiotelescópio, de modo que ela estava "destinada" às milhares estrelas que integram esse aglomerado. Acontece que M13 está a 25 mil anos-luz de distância e quando a mensagem chegar lá, o aglomerado inteiro terá se deslocado, assim como fazem todos os aglomerados globulares que estão em órbita ao redor do núcleo da Via Láctea. Então ela vai encontrar o vazio do espaço...

A mensagem tem as seguintes informações, de cima para baixo:

1) A sequência de pontinhos brancos são números de 1 a 10, em código binário.

2) Logo abaixo, em cor de rosa, estão os elementos químicos que compõem a molécula de DNA. Na verdade são os números atômicos do hidrogênio (1), carbono (6), nitrogênio (7), oxigênio (8) e fósforo (15), também em código binário.

3) Logo abaixo, em verde, estão os representados os nucleotídeos, as moléculas básicas que formam a estrutura maior da molécula de DNA. Estão representados a desoxirribose, a adenina, a timina, a citosina, a guanina e o fosfato.

4) Logo abaixo, temos duas linhas azuis torcidas em torno de uma haste branca vertical. As linhas representam a famosa dupla hélice da estrutura da molécula de DNA e a haste, o número de nucleotídeos "usados" para formá-la. Na mensagem de 1974 foi codificado o número 4,3 bilhões, que era a quantidade estimada de nucleotídeos na época. Hoje sabemos que esse número é de 3,2 bilhões.

5) As hélices do DNA apontam para a cabeça de uma silhueta humana e à esquerda está o valor da altura média de um homem adulto (1,764 metros em valores da época). Já à direita está o valor da população mundial em 1974: 4,3 bilhões de pessoas.

6) Logo abaixo, em amarelo, está representado o nosso Sistema Solar, com o terceiro planeta, a Terra, em destaque. Naquela época, Plutão ainda era planeta.

7) Finalmente, a última parte da imagem mostra o rádio telescópio de Arecibo, que transmitiu a mensagem. Ele está apontado para baixo e a letra "M" na verdade mostra o caminho da radiação que chega paralela do espaço, reflete na curvatura do prato do telescópio e converge para o ponto focal.

Como eu disse lá no começo, a intenção dessa mensagem não era a de enviar um recado para uma possível civilização, já que o destinatário nem vai estar mais lá daqui a 25 mil anos, talvez nem nossa civilização exista mais daqui tanto tempo. Mas ela tem o aspecto interessante de ter sido pensada e elaborada com cuidado para conter informações básicas sobre quem estava escrevendo. Essa ideia já tinha sido posta em prática com as placas banhadas a ouro, também ideia de Sagan, que foram acopladas às sondas Pioneer 10 e 11 lançadas em 1972 e 1973, respectivamente. Esse conceito teve seu ápice nos discos dourados das sondas Voyager 1 e 2.

Hoje em dia ainda há iniciativas como essa, alguns pesquisadores enviam mensagens codificadas em sistemas estelares com planetas promissores em dar condições de abrigar vida, mas, até agora, nenhuma mensagem teve resposta.

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