terça-feira, 2 de dezembro de 2014

História da observação astronômica - Parte 8


(Dermeval Carneiro - O Povo) Ainda no século XVII, ocorreu uma notável disputa científica que, mais tarde, ao serem esclarecidas as dúvidas, trouxe grande contribuição para a evolução da observação astronômica. Em 1675, em suas pesquisas sobre a óptica física, Isaac Newton observou o espectro visível obtido através da decomposição da luz solar ao atravessar um prisma de vidro, fenômeno conhecido como dispersão da luz. Com esses resultados, Newton enunciou a teoria corpuscular de propagação da luz.

Ele defendia que a luz era constituída e se propaga através de partículas. Essa ideia contrariava a teoria do seu colega e contemporâneo: o físico, matemático e astrônomo holandês Christiaan Huygens (1629-1695), que defendia a propagação da luz através de ondas e não de partículas (teoria ondulatória de propagação da luz). A discussão durou anos. No campo da observação astronômica, Huygens, com um telescópio bem mais poderoso do que o de Galileu, descobriu os anéis de Saturno e Titã – o maior satélite do senhor dos anéis.

Cerca de 200 anos depois, surgiram novas ideias de outros dois gênios da humanidade. Um deles, o físico e matemático britânico James Clerk Maxwell (1831-1879), uniu a eletricidade, o magnetismo e a óptica, dando forma ao eletromagnetismo. Ele demonstrou que os campos elétricos e magnéticos se propagam com a velocidade da luz. A contribuição de Maxwell é considerada a mais importante para a física do século XX. E vejam só, no ano em que Maxwell morreu, nasceu o outro gênio: Albert Einstein (1879-1955). Se Einstein fosse contemporâneo de Newton e Huygens, ele teria dito: “Calma gente! Os dois estão certos! A luz tanto é onda como partícula! Depende de como observá-la!”.

Em 1905, Einstein lançou a Teoria da Relatividade Geral (que eu gosto de chamar de Teoria Geral da Gravitação). No meu modo de ver, somando-se as descobertas de Maxwell e Einstein, a dúvida da “dualidade onda-partícula”, entre Newton e Huygens, foi definitivamente esclarecida. Essas contribuições de Maxwell e Einstein, é o que eu considero como o terceiro momento “mágico” da história da observação astronômica. Pois, com essas novas ideias, os olhos voltados para o universo passaram a ter muitas dúvidas e questionamentos. Com isso, veio a exigência de mais e mais desenvolvimento de novas tecnologias destinadas à observação astronômica no iniciante século XX.

No início desse século, foram desenvolvidas várias técnicas e modelos que deram um grande avanço no estudo da astrofísica e na observação astronômica, permitindo compreender melhor o interior das estrelas. Em 1913 foi desenvolvido o diagrama Hertzprung-Russel, uma importante ferramenta para o estudo da evolução das estrelas. Também conhecido pela abreviação HR, o diagrama foi criado por dois astrônomos: o dinamarquês Ejnar Herztprung e o americano Henry Norris Russel. O HR relaciona a temperatura com a classe espectral e a luminosidade das estrelas. Desse modo, e em um só gráfico, o HR nos mostra os vários estágios da vida das estrelas. As novas tecnologias desenvolvidas permitiram a construção de grandes telescópios instalados em terra que permitiram e continuam fazendo inúmeras descobertas através da observação astronômica. Outros telescópios gigantes estão sendo projetados para instalação na Terra até 2021 usando a moderna técnica da óptica adaptativa.

Na tentativa de eliminar os efeitos da atmosfera, cientistas e agências espaciais desenvolveram tecnologia para instalar um telescópio fora da atmosfera terrestre. E veio o telescópio espacial Hubble (nome dado em homenagem ao grande astrônomo americano Edwin Powell Hubble, que revolucionou a astronomia descobrindo que o Universo está se expandindo). Após superadas as dificuldades iniciais, o Hubble foi colocado em órbita da Terra em abril de 1990, e o resultado foi de tirar o fôlego. Inicialmente projetado para funcionar durante 15 anos, ele já está há 24 anos fornecendo impressionantes imagens e registros do Universo. Brevemente será substituído pelo telescópio espacial James Webb, que além de óptico vai funcionar também na faixa do raio X.

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