Em 1938, Orson Welles transmitiu 'A Guerra dos Mundos', de H.G. Wells
(GHX/Terra) Em 30 de outubro de 1938, marcianos invadiram a Terra. Pelo menos em uma transmissão de rádio que disseminou preocupação e até pânico entre os milhões de ouvintes da Columbia Broadcasting System (CBS) nos Estados Unidos. Às 21h, uma mulher entrou apavorada na 47ª delegacia de polícia de Nova York. Carregava duas crianças pequenas, roupas e mantimentos. “Estou pronta para deixar a cidade”, anunciou para os policiais, segundo relato do New York Times do dia posterior.
Na verdade, o noticiário veiculado naquela estação de rádio era uma adaptação do livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, narrada por Orson Welles e pela companhia teatral Mercury Theatre on the Air. No início do texto, uma mensagem avisava que a peça se constituía de ficção. Mas muitas pessoas só começaram a ouvir depois, quando a narrativa retratava a queda de um meteoro em uma fazenda de Nova Jersey e a descoberta de que o “meteoro” era uma nave cheia de alienígenas munidos de raios mortais e inclinados a exterminar a espécie humana.
No livro e na transmissão, os seres extraterrestres são descritos como marcianos, ou seja, oriundos de Marte. Antigamente, a possibilidade de vida fora da Terra era sempre associada a esse planeta. “Marte estava no imaginário popular”, lembra Ademar Gevaerd, editor da Revista UFO. “Tínha-se mais informações sobre Marte do que outros planetas. Depois foi a vez de Vênus”.
Após o envio de sondas da Nasa a Marte – como a Curiosity, que perscruta o solo marciano neste exato momento –, o planeta deixou de se enquadrar como candidato a abrigar vida inteligente. Mas ufólogos apontam para mais longe: acreditam que seres de planetas mais distantes já tenham visitado a Terra. Por outro lado, astrônomos alegam que, com a tecnologia que se conhece hoje, os planetas mais próximos com condições de ter vida estão longe demais para enviar representantes para cá.
De qualquer forma, a adaptação da história de A Guerra dos Mundos teve impacto no imaginário popular. Talvez impacto maior do que esperava seu idealizador, que chegou a pedir desculpas por qualquer dano, incômodo ou problema provocado. O New York Times do dia seguinte relatou o recebimento de 875 telefonemas sobre o assunto. Em um deles, o homem perguntava a que horas seria o fim do mundo. Em outro, o leitor reclamava que todos seus convidados haviam abandonado o jantar em sua casa para fugir dos marcianos. No hospital de St. Michael, em Newark, 15 pessoas tiveram que ser atendidas por conta de choque e histeria.
A quantidade de ligações sobre o assunto era tão grande que jornalistas começaram a investigar o caso. Assim, a agência de notícias Associated Press achou conveniente emitir o seguinte comunicado: "Nota aos editores: as perguntas aos jornais de ouvintes de rádio em todo o país nesta noite a respeito de um meteoro caindo e matando pessoas em Nova Jersey são resultado de uma dramatização em estúdio".
Vida fora da Terra
Gevaerd acredita que a hipótese de vida inteligente fora da Terra era mais assustadora no passado. “Acho que, se as pessoas soubessem que há vida inteligente extraterrestre, e que já houve visitas de seres extraterrestres ao nosso planeta, haveria uma reação, sim, mas não histeria”. Para o editor da Revista UFO, as informações sobre Marte estão sendo reveladas aos poucos pela Nasa, com o intuito de preparar a população da Terra. Segundo ele, muitos ufólogos acreditam não apenas que já houve vida inteligente em Marte, mas que lá existia uma civilização complexa. Entre as evidências dessa suspeita, cita algumas formações com feições humanas e outras que se assemelham a pirâmides.
A transmissão
Assim começou a transmissão naquele dia 30 de outubro de 1938 (ouça aqui o áudio na íntegra, em inglês): “Sabemos agora que, nos primeiros anos do século 20, este mundo estava sendo observado de perto por inteligências maiores do que as do homem e mesmo assim tão mortais quanto ele. Sabemos agora que, enquanto seres humanos ocupavam-se com suas diversas atividades, eram analisados e estudados, talvez de forma quase tão estreita como um homem com um microscópio pode examinar as criaturas transitórias que pululam e se multiplicam em uma gota de água. Com a complacência infinita as pessoas iam para lá e para cá sobre a Terra com seus assuntos mundanos, serenas com a certeza de seu domínio sobre esse pequeno fragmento giratório que flutua pelo espaço, que por acaso ou por determinação o homem herdou do mistério escuro do Tempo e do Espaço. No entanto, através de um imenso abismo etéreo, mentes que são para nós como as nossas mentes são para os animais na selva, cheias de intelecto, frias e insensíveis, miraram esta Terra com olhos invejosos e lenta e seguramente arquitetaram seus planos contra nós”.
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