Além de estudos sobre o céu, instituição também realiza pesquisas de Geofísica, Metrologia e é responsável pelo horário oficial do Brasil
(Globo Cidadania) No dia 15 de outubro de 1827, o imperador D. Pedro I criava o Observatório Nacional. Ao longo de 186 anos de história, ele se firmou como a mais duradoura e uma das mais importantes instituições científicas do Brasil. Além de realizar o estudo de estrelas, planetas e outros corpos celestes, o Observatório Nacional integra redes internacionais de pesquisas geofísicas, sendo responsável por determinar o horário oficial do Brasil. Como se não bastasse tudo isso, ajudou a estabelecer as fronteiras do país, e a determinar o local da fundação de Brasília.
Teresinha Rodrigues, pesquisadora do Observatório Nacional, destaca que o maior patrimônio da instituição é sua atividade continuada. “O ON foi criado há 186 anos, mas continua prestando grandes serviços e formando pesquisadores. Atravessou todos os regimes políticos e governos desde então”, comenta. Ela conta que, apesar de, às vezes, a ciência ser deixada em segundo plano pelos governos, a instituição sempre teve equipamentos de ponta, mostrando o desenvolvimento científico e tecnológico do país.
“No início, os astrônomos registravam suas observações em desenhos. No fim do século 19, começaram a usar fotografias com filme. Atualmente, especialistas tiram fotos digitais”, conta Teresinha. Ela explica que, sempre que uma nova tecnologia era desenvolvida, o Observatório Nacional adquiria os equipamentos e treinava os astrônomos para operá-los.
Além daqueles localizados no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, o Observatório Nacional conta com um telescópio construído em Itacuruba, no sertão de Pernambuco. Esse equipamento é responsável por estudar asteroides no Sistema Solar. Teresinha destaca ainda que outro foi instalado em Brazópolis, interior de Minas, mas hoje é operado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica. Apesar de contarem com tecnologias de ponta, esses telescópios não chegam nem perto dos maiores do mundo, em tamanho.
“Quanto maior o diâmetro do espelho do telescópio, maior seu alcance. No Deserto do Atacama (Chile), está sendo projetada a construção de um telescópio com espelho de 40 m de diâmetro. Os nossos variam de 1 m a 1,6 m”, comenta. Teresinha explica que esses equipamentos devem ser construídos em locais muito secos. Por ter um clima úmido e chuvoso em grandes períodos do ano, não é vantajoso construir grandes observatórios no país. Em estudos mais profundos, pesquisadores brasileiros recorrem a parcerias internacionais.
Olhos para o céu e para a terra
O Observatório Nacional também faz parte de redes internacionais de estudos das ciências da terra. Teresinha conta que, em todo território brasileiro, há sismógrafos, estações geomagnéticas, que recolhem dados e integram trabalhos com instituições de outros países. “O Observatório recebeu seu primeiro sismógrafo em 1900, enviado por cientistas do Japão”, comenta a pesquisadora. Ela explica que o Rio de Janeiro está localizada no ponto extremo oposto da Terra em relação ao país oriental e os pesquisadores dali queriam descobrir os reflexos de seus terremotos no território brasileiro.
Os estudos geográficos do Observatório Nacional também ajudaram a escrever a história do Brasil. “A instituição nomeou comissões para estabelecer as fronteiras do país com a Argentina, Bolívia, Peru, entre outros vizinhos”, comenta Teresinha. A pesquisadora conta que o local da construção de Brasília também foi estabelecido por uma equipe do Observatório. “A transferência da capital foi instituída em 1889. A Expedição Cruls (1892 a 1895) determinou o ponto, no coração do Planalto Central, onde seria construída a nova capital do país”.
Antes da criação do Instituto Nacional de Meteorologia, o Observatório Nacional também era responsável pelo estudo dos climas do país. Outra atribuição do ON é a medição do horário oficial de Brasília. “Até a metade do século 20, a hora era medida pelas Lunetas Meridionais, que determinavam o momento da passagem das estrelas pelo meridiano local”, comenta. Com o surgimento do relógio atômico, instrumento mais preciso de medição temporal, o Observatório adquiriu um, que passou a marcar o horário oficial do país.
Visita histórica
Em sua Teoria da Relatividade, o físico alemão Albert Einstein defendia que a gravidade de grandes corpos celestes, como o Sol, poderia afetar até trajetória a luz. A teoria foi comprovada em 1919, quando o Observatório Nacional organizou uma expedição a Sobral, no Ceará, onde foi observado o eclipse total do Sol. Na ocasião, com a participação de astrônomos americanos e ingleses, se observou que uma estrela teve sua posição aparente no céu distorcida pela gravidade solar.
O físico alemão visitou o Observatório Nacional seis anos depois. Teresinha conta que, na época, Henrique Charles Morize era presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e diretor do Observatório Nacional. O físico alemão visitou o Rio de Janeiro, para realizar uma série de palestras. Entre uma fala e outra, foi convidado a conhecer as instalações do ON. “As pessoas pensam que ele veio ao Brasil ver o eclipse. Ele veio só anos depois”.
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