sexta-feira, 26 de junho de 2009

Participação brasileira nas missões Apollo

País integrou rede internacional de observação lunar preparatória para pouso de missão tripulada

Travnik com nota fiscal da compra de água para astronautas da missão Apollo



(Nelson Travnik - Scientific American Brasil) Em 20 de julho de 1969 o mundo assistiu pela TV o primeiro pouso do ser humano na Lua. Aproximadamente 550 milhões de telespectadores na primeira transmissão ao vivo via satélite puderam acompanhar o momento histórico em que, descendo do módulo lunar Águia, Neil Armstrong exatamente às 23h56:20 (horário de Brasília) pisava o solo lunar seguido por Edwin Aldrin Júnior. O mundo parou para ouvir de Armstrong suas primeiras palavras: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”. Cumpria-se assim as palavras do russo Konstantin Eduardovich Tsiolkovski, o Pai da Astronáutica: “A Terra é o berço do homem que não pode viver eternamente no berço”. A chegada na Lua deixou um rico legado para o desenvolvimento científico e tecnológico proporcionando inúmeras mudanças no dia-a-dia da humanidade. Os detalhes dessa epopéia são bastante conhecidos. Contudo poucos conhecem a participação brasileira nas missões Apollo: uma científica e outra material.

Era conhecida a existência de certas ocorrências de curta duração, os Fenômenos Transitórios Lunares (TLPs, na sigla em inglês) relatadas por inúmeros observadores. De fato, a própria Nasa em sua publicação Cronological Catalog of Reported Events, código TR R-277, de julho 1968, realizou amplo levantamento enumerando do ano 1540 a outubro de 1967 nada menos que 579 relatos de fenômenos diversos observados na Lua. Note-se que somente a partir de 1609 uma luneta foi direcionada ao céu e portanto antes dela, dois eventos de extraordinária magnitude foram descritos à vista desarmada no lado oculto da Lua o que nos conduz a crer no impacto de um cometa ou meteoro. Os relatos descreviam, na sua maioria, fenômenos com o: brilho inusitado ou pulsante, obscurecimento, avermelhamento e até mesmo emanação gasosa. Esse último o mais raro foi observado e, em 1958, feito um espectrograma na cratera Alphonsus em pelo astrônomo russo Nikolai A. Kozyrev (1908-1983).

Um outro fenômeno similar foi registrado por mim e meu colega Sergio Vianna no Observatório Flammarion de Matias Barbosa, em Minas Gerais, com uso de filtros seletivos na cratera Ptolemaeus das 00h45 às 01h30 (Tempo Universal, TU) em 14 de abril de 1970 na época de intensivas observações durante a missão Apollo 13.

Em nosso relatório a Smithsonian Institution-Center for Short-Lived Phenomena, a descrevemos como uma espécie de ‘bruma luminescente’, provavelmente emanação gasosa. Como sabido esta missão foi a única abortada a caminho da Lua e, posteriormente, o dramático episódio que quase causou a morte dos três astronautas foi levado ao cinema.

Como não se conhecia uma explicação científica satisfatória para esses fenômenos em um astro então considerado morto, e diante que algo poderia acontecer as tripulações das naves quando estivessem para pousar, a Nasa-JPL decidiu criar uma rede internacional de observadores encarregados de patrulhar nosso satélite intensivamente. Surgiu, então, a Rede Internacional de Observadores Lunares, coordenado (Lion, na sigla em inglês) pela Dra. Bárbara M. Middlehurst. Em 1968 ela esteve no Rio de Janeiro nomeando o astrônomo Ronaldo R.F.Mourão para coordenar o programa no Brasil.

A equipe inicial desse programa contou então com os cinco mais experientes observadores: Rubens de Azevedo e Jean Nicolini (já falecidos), José M.L.da Silva, Cláudio Pamplona e Nelson Travnik. Essa equipe treinou outros astrônomos na técnica dessas observações e até a missão Apollo o grupo já contava com 23 participantes. Da missão Apollo 8 até a 13 foram feitos 63 relatos. Para uma análise meticulosa das observações fui designado para fazer uma avaliação das três observações mais importantes em território nacional. O resultado foi publicado em 1972 pela Universidade do Sertão, convênio FPI.INDEP. Ao final deste trabalho feito no Brasil e em muitos países ficou a pergunta : a Lua é realmente um astro morto?

Outra colaboração brasileira às missões Apollo e até certo ponto curiosa e veio de uma cidade do Estado de São Paulo: Águas de Lindóia. A Nasa, após pesquisar em diversas fontes de águas minerais no mundo, optou pela água dessa cidade por ser detentora das maiores propriedades diuréticas e elevado nível de radioatividade. Ela abasteceria os tripulantes da missão Apollo.

A nota fiscal nº 20.218 de 02/04/1969 da extinta Cervejaria Amazonas Ltda, distribuidora no Rio de Janeiro, consta a aquisição, pela Nasa, de 100 dúzias de recepiente de ½ litro da água mineral Lindóia Carrieri. Na nota consta o envio pelo Aeroporto Santos Dumont ao Centro Espacial Kennedy. A nota original encontra-se exposta na Prefeitura Municipal dessa cidade.

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