quarta-feira, 1 de julho de 2009

Os 150 anos do 1º Observatório Astronômico Cearense

(George Yure de Andrade Castro - O Povo) Em 1859 houve um fato que ficou marcado na história de Fortaleza e que teve muita ligação com o desenvolvimento das pesquisas cientificas aqui no Ceará. Trata-se da famosa visita da comissão científica exploradora, mais conhecida principalmente - a partir do lançamento do livro da professora Silvia Porto Alegre - como a “Comissão das Borboletas”.

Para a história da astronomia local as pesquisas e peripécias da comissão poderiam até ter passado quase que despercebidas se não fosse o fato de os científicos terem instalado aqui o “1º Observatório astronômico e meteorológico do Ceará” que completou na sexta-feira passada 150 anos.

Tudo começou com a iniciativa do Imperador D.Pedro II que em 1838 criou, no Rio de Janeiro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). A partir da criação da entidade, tiveram seus membros a ideia de criar uma comissão científica em 30 de maio de 1856. Esta veio ao Ceará em 1859 com atraso de 3 anos devido a questões políticas.

A missão dessa comissão era estudar melhor a flora e a fauna de várias regiões, assim como adquirir material e amostras para o Museu Nacional. A escolha do Ceará como a primeira província a ser visitada ocorreu em 1857. Eles desembarcaram aqui no começo de 1859, no antigo porto nas proximidades de onde fica atualmente a ponte “Metálica” e colocaram seus equipamentos, inicialmente, no depósito da praia, conduzindo-os depois para as dependências do Hospital de Caridade, atual “Santa Casa de Misericórdia”.

A comissão ficou instalada durante seis meses na casa do comendador José Antônio Machado onde hoje fica o atual “Excelsior Hotel” . Nesse período, além de recolherem amostras de plantas, minerais e estudar o solo, os integrantes da comissão fizeram pesquisas climatológicas e também levantamento topográfico da região de “Arronches”, atual Parangaba e Messejana para a Carta Itinerária da Província do Ceará. Quando partiram daqui de Fortaleza fizeram visitas a várias cidades do interior, continuando seus estudos com pesquisas, inclusive, sobre as condições em que viviam os povos indígenas da Ibiapaba.

Localização
O “primeiro observatório astronômico do Ceará” foi instalado no Morro do Croatá (próximo do atual cemitério São João Batista) pelo intelectual Giacomo Rajha Gablagia, o coordenador da seção astronômica e geográfica da comissão. Seus integrantes ainda contavam com o chefe da comissão, Francisco Freire Alemão, responsável pela seção de botânica, Guilherme Shuch Capanema, coordenador da seção Geológica e Mineralógica, o poeta indianista Gonçalves Dias,coordenador da seção antropológica, entre outros.

Dias, em uma de suas crônicas para o “Jornal do Commércio“, do Rio de Janeiro, relatou na época a criação do observatório provisório. Ainda com relação a este observatório, contava com um bom material em termos de equipamentos, tanto de instrumentos ópticos (1 telescópio completo e 3 lunetas), como de outros materiais de pesquisa: (barômetros, fotômetros, termômetros para solos, teodolitos e etc..). A comissão científica ainda ficou aqui no Ceará até 1860 quando então partiram no vapor Cruzeiro do Sul em direção ao Rio de Janeiro.

Uma parte dos estudos astronômicos chegou a revelar vários aspectos interessantes como a diferença de duração dos dias e das noites durante o ano, fenômenos luminosos, relatos sobre chuvas de estrelas cadentes e o pânico que esses fenômenos causavam nas camadas populares do interior quando aconteciam de modo mais intenso. No livro “Ensaio Estatístico da Província do Ceará”, Tomas Pompeu de Sousa Brasil relata com bastante precisão algumas dessas questões.

Após a partida dos científicos, o observatório, apesar de ter ficado aos cuidados da guarda da província até 1863, com o tempo, acabou sendo esquecido e furtado. Como era feito de madeira e se encontrava em local muito isolado na época, aos poucos os moradores mais carentes do local foram levando seus pedaços para fazerem suas casas e ou cercados, restando apenas parte dele e seu pedestal de bronze que acabaram por terminar no Depósito de Obras Públicas Municipal segundo fontes bibliográficas. Depois disso, ninguém mais teve informações sobre os destroços do observatório.

Ainda há muito a se pesquisar sobre essa comissão, que teve suas polêmicas e problemáticas quando esteve por aqui, mas que realizou um trabalho científico muito interessante para sabermos mais sobre nosso território brasileiro e principalmente sobre o nosso querido Ceará.

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