domingo, 25 de outubro de 2009

Satélite Sputnik, o marco zero da conquista espacial

(André Teixeira Bezerra - O Povo) Em 1957, 12 anos antes dos americanos pisarem na Lua pela primeira vez, os soviéticos puseram o primeiro satélite artificial em órbita da Terra, iniciando a Corrida Espacial. ``Eu vou prá Lua/Eu vou morar lá/Sair no meu Sputnik/Do Campo do Jiquiá...``. A estrofe é da música Eu vou prá Lua - composta em 1957 e perpetuada na voz de cantores como Zé Ramalho e Luiz Gonzaga -, reflexo do imaginário popular de viajar pelo espaço. Hoje as viagens espaciais são uma realidade, e o marco zero dessa epopeia humana foi o satélite artificial Sputnik.

A Guerra Fria foi um grande impulso na conquista espacial, encabeçada pela União Soviética (URSS, atual Rússia) e Estados Unidos. Ambos tinham consciência do impacto moral que tal conquista causaria na nação oposta, além, é claro, de fins militares. Para lançar um satélite é preciso um foguete, tecnologia que avançara muito por conta da Segunda Guerra Mundial, quando idealizavam armas de longo alcance. Como espólio de guerra, a URSS e os Estados Unidos herdaram documentos alemães, em destaque o míssil V2, criado por Wernher von Braun e sua equipe, membros do exército alemão. Em 1945, Von Braun se rendeu aos americanos, para quem passou a trabalhar, sendo membro, inclusive, do projeto Apollo, que levou o homem à Lua, há 40 anos; mas antes a URSS largara na frente na Corrida Espacial.

O Conselho Internacional de Uniões Científicas conclamou as nações para o lançamento de satélites, e os EUA afirmaram ter um projeto para o Ano Internacional da Geofísica (de julho de 1957 a dezembro de 1958). Sergei Korolev, protagonista da astronáutica soviética, propôs um prazo mais curto ao Sputnik, saindo à frente dos americanos. Korolev desenvolvia mísseis e foguetes capazes de transportar cargas, daí surgiu o R-7, ou Semiorka. O R-7 funcionava com o sistema de multiestágio, ou seja, o primeiro estágio funciona até esgotar seu combustível e é despejado, depois funcionaria o segundo estágio com o alívio do peso do primeiro. Com bom desempenho nos testes, seria esse o aparato selecionado para alçar o Sputnik. A essa altura os governantes se dedicavam à corrida armamentista, mas Korolev sensibilizou as autoridades quanto à utilização bélica do espaço. Em janeiro de 1956 foi assinado o decreto requisitando o voo do ``Objeto D``, a designação do satélite.

Depois de consecutivos atrasos no cronograma da construção do Objeto D, Korolev optou por algo bem singelo, um objeto capaz de enviar ``bipes`` à Terra, mas que satisfazia o conceito de satélite. Feito de liga de alumínio, em forma esférica de 58,5cm e quatro antenas, o equipamento estava pronto para ganhar o espaço no prazo previsto, mas o R-7 apresentou falhas. Após novos bons resultados do R-7, o lançamento é remarcado.

No dia 4 de outubro de 1957 a equipe se encontrava na base de lançamento Tyuratam, Cazaquistão, preparada para o início da missão. Às 22h28min o Semiorka decolou, embora pequenas falhas tenham ocorrido, o objetivo foi alcançado. Radioamadores podiam sintonizar entre as frequências 20.005 e 40.002MHz para escutar o sinal do Companheiro de Viagem (tradução de Sputnik, do russo), que permaneceu 92 dias orbitando. O primeiro passo da conquista espacial estava dado. Os satélites da série Sputnik ainda conseguiram importantes passos, em novembro de 1957 o Sputnik 2 conduziu o primeiro ser vivo ao espaço, a cachorrinha Laika. Os logros da URSS eram sucessivas derrotas para os EUA, que reagiram com a criação da Nasa, mas só ultrapassariam os soviéticos em 1969, com a chegada à Lua e mais tarde com a criação dos ônibus espaciais. Mas ainda hoje os russos têm a maior constelação de satélite do mundo.

Embora a funcionalidade do Sputnik 1 fosse questionada na época, hoje os satélites artificiais são fundamentais em nosso cotidiano, eles habilitam nossos telefones, enviam os sinais de TV, nos guiam por aparelho GPS, fazem serviço de previsão meteorológica e fornecem dados para estudos em diversos campos da ciência.

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