segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O mais antigo observatório solar das américas


(Victor Alencar - O Povo) Sete horas e meia de ônibus mais um de trajeto feito por carro com tração nas quatro rodas e uma tarde inteira de caminhada no deserto. Esse foi o esforço feito para sair da capital peruana e chegar a um dos mais magníficos sítios arqueológicos da America Latina. O mais antigo observatório solar das Américas. Seu nome: Chankillo.

Chankillo é um sitio arqueológico enorme, cunhado no meio de uma área desértica do Peru. Datado pelo método do Carbono 14 em 400 a.C., esse local histórico é um ótimo exemplo de que a Astronomia tinha papel importante na cultura dos povos antigos. Em Chankillo, a olhos destreinados, vemos apenas uma ruína de uma fortificação, chamada de “Fortaleza” no cume de um morro e, em outro morro, a sua frente, temos um conjunto de 13 torres.

Depois de escavações e estudos sistemáticos se pode ter um pouco mais de clareza sobre a grandiosidade de Chankillo. Esses estudos revelam que, além da “Fortaleza” e das 13 torres, há vários salões, em sua maioria ligados por corredores. Porem há um corredor que vai para uma sala central e é nessa sala que acreditam ser o local de observação onde, através das 13 torres, se pode determinar com clareza as épocas de Solstícios pelo nascer do Sol.

Alem do alinhamento das 13 torres com as posições de Solstício, esse sistema de contagem de tempo prevê um calendário anual com uma precisão de dois a três dias. É possível notar a disposição das 13 torres em um alinhamento com o eixo Norte-Sul e também alinhamentos entre posições de nascer e ocaso da Lua em diferentes fases.

Além da construção mais visível mostrar que o local era fortificado, os vários salões e corredores soterrados mostram que ali havia um projeto arquitetônico planejado, dispondo de centros administrativos e cerimoniais, locais de refugio e outros. Tudo isso espalhado em uma área de aproximadamente quatro quilômetros quadrados.

Durante a visita a Chankillo, tive a explicação arqueológica e astronômica dos cientistas Clive Ruggles e Iván Ghezzi, duas autoridades no assunto. Passamos uma tarde inteira cruzando um cansativo percurso em visita às ruínas das planícies, da “Fortaleza” e das 13 torres do sitio.

De acordo com o pesquisador peruano Iván Ghezzi, Chankillo foi construído com uma devida fortificação, mas é também um local destinado a rituais religiosos. Comumente, os elementos celestes como o Sol, a Lua e os planetas estão associados a figuras divinas para muitos povos antigos, o que a ciência chama de Astrolatria.

Tive a oportunidade de fazer uma pequena entrevista com uma das autoridades sobre Chankillo, o professor e arqueoastronômo britânico Clive Ruggles, referência também em outros temas relacionados à Arqueoastronomia.

Cosmos – Como conheceu Chankillo?
Clive Ruggles - Estava em uma pesquisa na região de Nazca, também no Peru. Na equipe havia eu, um outro cientista britânico e dois cientistas peruanos. Iván (Ghezzi) era um deles. Ele insistia muito para que eu fosse com ele visitar Chankillo, muitas pessoas me fazem convites desse tipo afirmando que o local tenha ligação com a Astronomia. Até que um dia resolvi conferir e percebi que o local era incrível.

Cosmos - A visão das 13 torres é realmente espetacular. Qual foi a sua reação quando as viu pela primeira vez?
Clive Ruggles - Quando estive em Chankillo pela primeira vez, acho que pela grandiosidade do sitio, não sei ao certo, mas fiquei muito impressionado. Realmente não tenho palavras para mostrar o quão incrível é aquela construção.

Cosmos - Você mencionou que já pesquisou sobre Nazca. A respeito daquela região, os alinhamentos e as figuras qual, é a sua posição a respeito disso?
Clive Ruggles - Há um certo tempo, houve trabalhos sobre Nazca, relacionando as figuras com constelações, mas não há um consenso sobre isso. Aquela é uma região que possui muitas linhas, não só as das figuras mas inúmeras outras, que começam e terminam de repente. Se procurarmos alguma relação entre as linhas e os astros, provavelmente acharemos, mas é algo tão vago que não se pode concluir nada sobre o caso em relação à Astronomia.

Para mais informações visite a pagina do arqueólogo Iván Ghezzi sobre Chankillo: www.idarq.org/chankillo.htm


CURIOSIDADES
Stonehenge, o circulo de pedras inglês, possui pedras de 25 toneladas e funciona como um calendário solar, além de possuir alinhamentos com o Sol possui também alinhamentos com o nascer e ocaso da Lua. Há estudos que afirmam que Stonehenge foi construído em três fases, sendo a mais antiga data de 3200 a.C.

No Egito antigo houve uma presença de conhecimento astronômico muito grande. Eles dividiram o dia em 24 partes iguais através das estrelas. As pirâmides possuem ductos de ventilação orientados com as estrelas principais da época. Se você for visitar o Museu do Louvre, em Paris, é possível desfrutar do fantástico Zodíaco de Dendera, que é o teto de um templo (templo de Dendera) ornado com um verdadeiro mapa celeste.

Na Babilônia, foram achadas tábuas de barro com textos escrito por cunhas (escrita cuneiforme) onde mostram a posição da Lua ao longo de anos. Há também tabuas que prevêem a posição dos planetas e até registros de cometas.

Na China antiga, a cultura astronômica teve um papel fundamental. Foi através dos registros chineses da Supernova observada em 1054 d.C. que sabemos hoje sobre a Nebulosa do Caranguejo, uma nebulosa planetária (nuvem de gás formada pela morte de uma estrela) cujo seus gases se expandem a uma velocidade de 1.500 quilômetros por segundo.

A China antiga tinha a Astronomia como peça fundamental do império, pois eles associavam os fenômenos celestes ao andamento do império. Assim, fenômenos como um eclipse solar era encarado como um dragão engolindo o Sol e o imperador tinha de ser avisado com antecedência, pois ele, durante o eclipse, atirava flechas em direção ao suposto dragão para afugentá-lo.

No Brasil, não temos sítios arqueológicos como Chankillo, porém como aqui há muitas etnias indígenas, uma pesquisa que vem ganhando força é a Etnoastronomia. Essa área estuda os conhecimentos sobre o céu desses povos.

No período dos homens das cavernas, uma das primeiras formas de contar o tempo era através das passagens da Lua Nova. Um bom registro desse tipo é o Osso de Ishango. Um osso de babuíno que está grafado um calendário lunar de cerca de seis meses. Essa peça do período Paleolítico é datada entre 20000 a.C. e 18000 a.C..

Na França há uma gruta, conhecida como Gruta de Lascaux, onde estão gravadas varias figuras celestes, como da representação da Constelação do Touro, das plêiades e de estrelas do Órion. Essas pinturas têm uma idade de 15500 anos atualmente.

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