quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sem investimentos, anos 1980 viram o surgimento dos ônibus espaciais


(Correio Braziliense) Apesar de ser conhecida por muitos como a “década perdida”, devido à redução dos investimentos, os anos 1980 são de suma importância para a exploração espacial, já que foi nesta época que o homem descobriu que a disputa não era a maneira mais racional de explorar o espaço. Num período de crise econômica, os orçamentos espaciais se tornaram mais realistas e equilibrados e, quando a Guerra Fria teve seu ponto final, soviéticos e americanos finalmente puderam dar as mãos e iniciar uma das cooperações mais importantes da exploração espacial mundial até hoje. Essa visão menos imperialista do espaço botou a Terra no centro da exploração do cosmos. Se antes o objetivo era chegar cada vez mais longe, agora o desejo dos astronautas que alcançavam o céu era entender melhor como se vive aqui embaixo. Começava a era dos satélites e telescópios.

O principal fruto do período mais pragmático dos programas de exploração do cosmos foi o surgimento dos ônibus espaciais — naves reutilizáveis, preparadas para decolar, colocar satélites e telescópios em órbita e pousar de volta na Terra. Ao contrário do que acontecia até então, quando para cada voo espacial uma nova nave tinha de ser construída e, no retorno ao planeta, ao invés de pousar, o veículo espacial era “jogado” no mar, a tecnologia dos ônibus espaciais permitia um pouso no solo, prolongando a vida útil das naves por décadas. “A idéia era executar mais de 100 voos por ano, transformando as viagens espaciais em algo simples como viagens de avião”, explica o pesquisador da história espacial José Monserrat.

O objetivo da durabilidade foi alcançado pelos engenheiros da Nasa. Dos cinco ônibus espaciais construídos entre 1981 e 1992, ao custo de US$ 2 bilhões, três deles — Endeavour, Discovery e Atlantis — chegaram em operação a 2010. O Columbia explodiu enquanto voltava à Terra em 2003 e o Challenger, enquanto decolava, em 1986. Já do ponto de vista econômico, os ônibus espaciais não foram tão rentáveis quanto esperado. As centenas de missões anuais nunca aconteceram e a Nasa conseguiu, no máximo, fazer 10 voos anuais com seus veículos reutilizáveis.

A emergência de uma nova ordem mundial se refletiu também na exploração espacial. Com o fim da Guerra Fria, a concorrência pela presença no espaço deu lugar à cooperação. Em um mundo mais próximo da paz, União Soviética e Estados Unidos começaram a trabalhar juntos pela conquista espacial. “O que favoreceu o desenvolvimento das duas partes, evitando que houvesse trabalho duplicado”, explica o presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem. “Assim, cada país passou a desenvolver parte da tecnologia e a usufruir de todos os resultados. Esse modelo provou ser o mais viável até hoje”, completa Ganem.

Mais nações se arriscaram na órbita da Terra. Quebrando o monopólio EUA-URSS, a Europa e países como o Brasil, o Japão e a China começaram a desenvolver seus artefatos espaciais. “Ao longo destes anos, tivemos feitos notáveis, mas pagamos um alto preço para melhorar nossa tecnologia”, afirma o porta-voz da Agência Espacial Japonesa (Jaxa), Makoto Miwada. “Nosso conhecimento científico tem sido aberto a outros países por meio de artigos científico. Isso pode ajudar alguns países a desenvolverem novas tecnologias”, opinou Miwada, em entrevista ao Correio.
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