terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Saga da Apollo 13 deflagrou crise no programa espacial dos Estados Unidos

Eugene A. Cernan, capitão da Apollo 17, última missão até hoje: desde dezembro de 1972, nenhum ser humano voltou à Lua


(Correio Braziliense) Quando James Lovell, capitão da nave Apollo 13, que em 13 de abril de 1970 fazia a terceira missão tripulada da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) com destino à Lua, anunciou pelo rádio “Houston, nós temos um problema”, começava uma crise de vida ou morte, que viria a colocar o próprio programa espacial em risco. Uma explosão no módulo de serviço da nave levaria os três astronautas da Apollo 13 a uma verdadeira saga para salvarem suas vidas. O drama de Lovell e de seus dois colegas, Fred Haise e John Swigert, tornou-se um dos episódios mais emocionantes da aventura humana no cosmos e marcou o início de uma crise de identidade nos programas espaciais. Impunha-se uma reflexão: valia a pena ir tão longe?

Se dois anos antes da explosão na nave americana a humanidade já havia parado diante da tevê para comemorar a chegada de Neil Armstrong à Lua, agora o mundo voltava seus olhos novamente para uma nave Apollo. O drama da tripulação, que lutava pela vida em uma pequena espaçonave avariada, quase sem energia, água ou oxigênio, fez pessoas de todo o mundo mais uma vez prenderem a respiração e torcerem freneticamente pelos três astronautas (veja infografia).

Coube à equipe composta pelo experiente comandante Alan Shepard, primeiro norte-americano a ir ao espaço, em 1961, e pelos astronautas estreantes Edgar Mitchell e Stuart Roosa a missão de realizar o que o trio da Apollo 13 não conseguiu: pousar na região de Fra Mauro, na Lua, para a primeira missão científica no satélite natural da Terra. “As missões anteriores foram para cuidar dos aspectos operacionais da exploração lunar, como aterrissagem e saída em segurança. Minha missão foi a primeira científica, para fazer coletas geológicas no satélite”, contou Edgar Mitchell ao Correio (leia entrevista).

Gastos estratosféricos
Apesar do sucesso da missão de que Mitchell participou, que pousou na Lua em 5 de fevereiro de 1971 e durante 32 horas realizou experimentos em ambiente lunar, a opinião pública americana já não concordava plenamente com as altas despesas — estima-se que a Nasa gastou US$ 100 bilhões apenas no programa Apollo — e com os enormes riscos das missões lunares.

No início dos anos 1970, as agências espaciais tiveram que começar a se restruturar. Aos poucos, a demonstração de poder, típica da Guerra Fria, foi dando lugar a explorações científicas e tecnológicas. Até que, em 1972, o então presidente americano Richard Nixon decretou o fim das missões lunares, iniciando um hiato da presença humana na Lua que já dura 38 anos.

Se, por um lado, a mudança de direcionamento das agências espaciais — não só a Nasa — impediu que o homem voltasse à Lua, por outro, o redirecionamento dos programas de exploração abriu espaço para a produção de um conhecimento aparentemente mais útil à população. Satélites meteorológicos e de telecomunicações que começaram a ser desenvolvidos naquele período resultaram na tecnologia utilizada até hoje. “Atualmente, nosso programa espacial é baseado em projetos que incluem sistemas que servem para monitorar o transporte, a agricultura, a água e o manejo florestal”, explica Alexey Korosteliov, chefe de Cooperação Internacional da Roscosmos — a Agência Espacial Russa. “Assim, ao mesmo tempo, desenvolvemos instrumentos para a exploração espacial e fornecemos dados para outras áreas da economia”, completa.

Antes que o último passo em solo lunar fosse dado, em 14 de dezembro de 1972, o capitão da Apollo 17, Eugene A. Cernan deixou uma placa no solo lunar, com uma inscrição representando o desejo da humanidade: “Aqui, os homens completaram sua primeira exploração da Lua. Possa o espírito de paz no qual viemos refletir-se na vida de toda a humanidade”.

Três perguntas para - Edgar Mitchell, Sexto homem a pisar na Lua

O sonho com Marte

Há 30 anos, o homem não volta à Lua. Em sua opinião, por que esse hiato esta sendo tão longo?
Há problemas de financiamento. Quando John Kennedy, presidente dos EUA na década de 1960, anunciou as missões para a Lua, ele não queria que os Estados Unidos ficassem atrás na corrida espacial. Depois da sexta missão Apollo, porém, a população e o Congresso não queriam mais financiar o programa, o que fez com que ele fosse cancelado. Mas acredito que nós voltaremos à Lua. Esse é o nosso destino. E vamos ter que aprender a fazer isso com fontes sustentáveis. Estamos usando excessivamente os recursos da Terra, então, se quisermos voltar lá, teremos que fazer isso de maneira mais equilibrada.

Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir para o espaço, disse recentemente que gostaria de visitar Marte, mesmo que não pudesse voltar de lá. Se tivesse oportunidade, o senhor gostaria de participar de outras missões?
Há conversas sobre desenvolver atividades para ir tanto para Marte quanto para a Lua, para estabelecer uma colônia ou uma estação científica. Isso pode ser feito, e uma das formas é por meio de uma viagem só de ida para Marte, para colonizar o planeta e começar a desenvolver uma civilização lá. Isso pode acontecer no futuro, mas não acredito que estejamos prontos para fazer isso ainda. Ainda não temos a habilidade, todas as coisas necessárias para fazer isso. Mas tenho certeza de que isso vai acontecer em um momento oportuno. As pessoas me faziam essa mesma pergunta e eu respondia: “Com certeza, mas vou esperar até ter 100 anos”. Portanto, considerando a minha idade (hoje, 80 anos) talvez eu vá ao espaço em breve (risos).

Mas o senhor crê que, mesmo com os recentes cortes de verba, o programa espacial americano deve conseguir voltar à Lua e chegar a Marte?
Sim, ele está se desenvolvendo mais devagar no momento, por causa do colapso econômico global, que causou recessão em todo o mundo, mas está progredindo. Temos que recuperar o sistema econômico para voltar a desenvolver projetos espaciais. Mas, com certeza, teremos mais projetos espaciais funcionando e vamos para Marte em algum momento, embora eu ache que ainda temos que amadurecer como civilização antes de fazer isso. China e Índia expressaram interesse nas atividades espaciais. Espero que todos esses países trabalhem junto com os EUA, como uma civilização global indo para o espaço, em vez de fazer isso separadamente.

“Por meio de vocês, nos sentimos como gigantes. Mais uma vez”.
Ronald Reagan, presidente norte-americano em 1981, para a tripulação do ônibus espacial Columbia, após a primeira viagem ao cosmos com um veículo reutilizável.

Ilustração da Nasa mostra o momento da explosão na Apollo 13

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