segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Viagem pela órbita terrestre marcou o início da conquista do espaço

(Correio Braziliense) Aquele ano poderia estar guardado na memória de todos devido ao início das obras do Muro de Berlim. Ou por causa da invenção de Sapecewar, o primeiro jogo de computador, criado nos Estados Unidos. Ou ainda graças à atriz Audrey Hepburn, que fez plateias do mundo todo tomarem café da manhã na joalheria Tiffany’s, no filme Bonequinha de luxo. De fato, ele ainda é lembrado por tudo isso, mas é uma frase — que na época uniu cidadãos de todo o planeta — a grande responsável por transformar 1961 em um dos anos cruciais para a história da humanidade: “A Terra é azul”.

Dita pelo astronauta soviético Iuri Gagarin, a afirmação marcou a chegada do homem ao espaço. Foi pronunciada em 12 de abril, quando o integrante da primeira missão tripulada que atingiu a órbita terrestre olhou pela janela e constatou que vivemos em uma imensa bola da cor do mar. Nesta semana, com uma série de sete reportagens, o Correio reconta os 50 anos da conquista espacial.

Muito antes do feito de Gagarin, os olhos e o interesse dos homens já se voltavam para o cosmos. O céu é a morada de Deus? A Terra é o centro do Universo? Essas foram algumas das perguntas que ocuparam pensadores do passado. Em 1543, porém, a abordagem científica da astronomia ganhou força com o físico polonês Nicolau Copérnico, que afirmou que o centro do Universo era o Sol, não a Terra. “Apesar de ter ocorrido há quase quatro séculos, a mudança de perspectiva trazida pela teoria de Copérnico nos deixou mais próximos do cosmos. A Terra tornou-se um planeta como os demais”, explica o professor de astrofísica do Dartmouth College, nos Estados Unidos, Marcelo Gleiser.

Foi o pensamento revolucionário de homens como Copérnico que pavimentou o caminho para a missão da nave Vostok-1, que levou Gagarin ao espaço sideral. O feito, celebrado no mundo inteiro, foi resultado de um projeto iniciado em 1956, quando a extinta União Soviética criou a Sociedade de Estudos da Viagem Interplanetária, início do programa espacial do país comunista. Um ano depois, os soviéticos enviariam o primeiro ser vivo terrestre ao espaço, a cadela Laika, a bordo da Sputnik II. Outros testes, como o lançamento de uma sonda que pousou na Lua, seriam realizados antes de Gagarin ser enviado para a arriscada missão.

“Um jovem piloto voou em um veículo espacial nunca antes testado com confiabilidade e em um ambiente sem ar. Ninguém, em 1961, poderia fornecer 100% de garantia que o jovem russo voltaria à Terra. Por isso, a missão de Gagarin representa um ato heroico”, avalia Alexey Korosteliov, chefe de Cooperação Internacional da Roscosmos, a agência espacial russa. De fato, o russo quase morreu durante a viagem, sendo obrigado a ejetar-se da nave depois que ela explodiu (veja arte).

Fruto do desejo de chegar cada vez mais longe, o voo da Vostok-1 influenciou toda uma geração. “Gagarin foi meu primeiro ídolo. Eu era criança quando ele foi para o espaço, e o seu feito influenciou a minha maneira de ver o mundo, e o meu desejo de poder contribuir para a exploração espacial”, lembra Carlos Ganem, hoje presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB). Mais do que uma simples conquista científica, o feito do soviético redirecionou a humanidade. E acirrou a competição entre União Soviética e EUA, que, oito anos mais tarde, levariam o homem à Lua.

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