quinta-feira, 14 de julho de 2011

Duas décadas sem Jean Nicolini

Astrônomo que fundou várias entidades ainda influencia pesquisadores amadores



(Nelson Travnik - Scientific American Brasil) Mal podíamos acreditar nas notícias vindas de Americana, interior de São Paulo, na tarde de 23 de julho de 1991. Ao se dirigir para o Observatório Municipal de Americana, que ajudou a fundar em 1985, o Volkswagen de Jean Nicolini teve o pneu traseiro furado e colidiu com a mureta de uma ponte. Pessoas que acorreram ao local já o encontraram morto. Aos 69 anos, no auge de sua produção científica e pedagógica, Nicolini se despedia do nosso convívio.

Leitor voraz de história antiga e arqueologia, a astronomia era a razão de sua existência, o sol que banhava sua fronte. Em 15 de outubro de 1948, aos 26 anos, Nicolini fundou, na Vila Olímpia, em São Paulo, o Observatório do Capricórnio, mais tarde transferido para Atibaia e, em 1976, incorporado por convênio ao Observatório Municipal de Campinas. Fui, nessa ocasião, convidado por ele com o endosso do prefeito Lauro P. Gonçalves, astrônomo amador, para trabalhar em Campinas.

Por suas observações dos planetas Vênus e Marte Nicolini foi laureado pela Société Astronomique de France (SAF) com o prêmio “George Bidault d’ Isle”. Ele recebeu uma medalha de prata entregue em sessão solene no auditório do Planetário do Ibirapuera pelo astrônomo francês Jean Delhave.

Nicolini participou como membro ativo da SAF e de várias outras entidades e colaborou com o Observatório de Meudon, na França, na determinação do período de rotação de Vênus. Participou do International Mars Comitee, em 1954, para elaboração do mapa meteorológico de Marte. Entre 1961 e 1991 foi “Standard Observer” pela AAVSO. Foi também observador credenciado pela Nasa-JPL e pelo Smithsonian Institution no projeto “LION” para observações durante o projeto Apollo.

Publicou dois livros: Marte, o planeta do mistério e manual do astrônomo amador, pela editora Papirus, o segundo deles ainda hoje uma referência para os astrônomos amadores. Desempenhou inúmeros cargos em associações nacionais e internacionais.

Nicolini foi cofundador da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, AAA (1949), da Sociedade Interplanetária Brasileira (SIB), em 1952, da Sociedade Brasileira de Selenografia (SBS), (1956), e da União Brasileira de Astronomia (UBA), em 1970. Entre seus maiores colaboradores destacavam-se Rubens de Azevedo, Rômulo Argentiere e Frederico Funari.

Graças ao seu conhecimento e atenção que dedicava às pessoas que o procuravam, despertou inúmeras vocações. Nunca deixava de responder a uma única carta. Uma das mais profícuas motivou o físico Rogério Marcon, da Unicamp, a se dedicar à heliofísica, tornando-se um dos maiores pesquisadores brasileiros nessa área. Marcon criou mais tarde o Observatório Solar B. Lyot, dedicado à memória de Nicolini.

Soube como poucos honrar com seus trabalhos a ciência astronômica.

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