quarta-feira, 24 de abril de 2013

Há 46 anos, cosmonauta era lançado à morte certa e amaldiçoava culpados



(Terra) Em seus últimos momentos, o cosmonauta Vladimir Komarov estava no espaço e chorava enquanto conversava com o alto oficial em terra Alexei Kosygin, que também derramava lágrimas porque, os dois sabiam, Komarov não retornaria com vida ao planeta. Na Turquia, americanos conseguiram captar parte da conversa entre os soviéticos em 1967. Segundo eles, o cosmonauta amaldiçoava as pessoas que o colocaram na nave espacial.

A missão Soyuz 1 foi um desastre anunciado do programa espacial soviético. Komarov sabia que a cápsula não era segura para um lançamento ao espaço; contudo, Leonid Brezhnev, líder soviético, decidiu que deveria ocorrer um encontro entre duas naves no espaço, algo extraordinário para a época, em comemoração ao 50º aniversário da Revolução Russa. Brezhnev deixou claro que isso teria que ocorrer.

O plano era que Komarov fosse lançado em uma cápsula. No dia seguinte, outros dois cosmonautas iriam em outro veículo e as duas naves se encontrariam no espaço. Komarov passaria de uma para outra, trocando de lugar com um colega. Yuri Gagarin - que já era conhecido na época como o primeiro homem no espaço - e outros técnicos inspecionaram a Soyuz 1 e descobriram 203 problemas estruturais. Gagarin recomendou que a missão fosse adiada.

Gagarin chegou a escrever um relatório de 10 páginas e entregou a um amigo na KGB. O problema era: quem avisaria Brezhnev de que sua ideia "genial" tinha ido por água abaixo? Todas as pessoas que receberam o relatório de Gagarin foram tiradas do cargo, demitidas ou mandadas para a Sibéria. A um mês do lançamento, Komarov notou que a missão iria ocorrer de qualquer jeito, com quem quer que fosse.

Komarov ficou com medo de recusar a missão, já que, se não fosse ele, eles iriam mandar o cosmonauta reserva: Gagarin. O problema é que os dois eram grandes amigos, e Komarov não queria mandar o companheiro para a morte certa. Ele iria no lugar.

Em 23 de abril de 1967, a Soyuz 1 foi lançada ao espaço. Nos primeiros momentos em órbita, ela já demonstrou diversos problemas: as antenas não funcionavam corretamente, a navegação e a energia estavam comprometidas. O lançamento do dia seguinte teve que ser cancelado e as chances de Komarov voltar seguro à Terra eram mínimas.

A inteligência americana, em sua base próxima a Istambul, escutou toda a conversa entre o cosmonauta e os oficiais soviéticos. Alexei Kosygin, premiê soviético, conversou com Komarov e o chamou de herói. Quando a mulher do cosmonauta perguntou ao marido o que gostaria de dizer aos filhos, Kosygin chorava.

Quando os paraquedas da nave falharam na descida, a inteligência americana conseguiu gravar os gritos de Komarov, que aos prantos amaldiçoava quem o havia colocado na nave. Do cosmonauta, os soviéticos encontraram um osso lascado do calcanhar.

O acidente afetou muito Gagarin. O herói russo sentia a responsabilidade pela morte nos ombros e o relato de um amigo indica que ele gostaria de conversar com Brezhnev pessoalmente. Rumores, nunca comprovados, indicam que os dois se encontraram brevemente, o suficiente para Gagarin jogar o conteúdo de seu copo no rosto do líder soviético. O cosmonauta morreu em 1968, em um acidente de avião.

A história da morte de Komarov é contada no livro Starman, de Jamie Doran e Piers Bizony, que ouviram relatos do oficial da KGB Venyamin Ivanovich Russayev, que recebeu o relatório e era amigo de Gagarin, e de um artigo de Yaroslav Golovanov na revista Pravda.
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