segunda-feira, 3 de novembro de 2014

História da observação astronômica - Parte 6



(Dermeval Carneiro - O Povo) Na história da observação astronômica existem, no meu modo de ver, três momentos mágicos. O primeiro ocorreu entre os séculos 600 e 400 a.C., nas ilhas Jônicas – região considerada como berço da ciência. De fato, as descobertas e experiências realizadas por Demócrito, Empédoclis, Anaximandro de Mileto, Tales de Mileto e outros, revolucionaram os conceitos, crenças e pensamentos existentes até então, promovendo o nascimento da ciência.

E não foi por menos. O brotar da ciência trouxe inovações, pois durante séculos os homens usaram varetas para se agredirem. Anaximandro de Mileto, em vez de usar uma vareta como arma, fez algo bem diferente: observou o movimento da sombra de uma vareta na vertical e mediu com precisão a duração do ano e das estações, tornando-se um dos primeiros a realizar de fato um experimento. Nesse, que chamo de primeiro momento mágico, ocorreu uma extraordinária coincidência favorável ao desenvolvimento da ciência: a contemporaneidade entre Anaximandro e Tales de Mileto – colegas e habitantes de ilhas vizinhas. As ideias desses dois gigantes da ciência foram muito importantes para a física moderna.

O segundo momento mágico ocorreu na Renascença – período da história da Europa onde alguns estudiosos defendem que ocorreu entre o início do século XV (com o final da Idade Média) e o século XVII. No meu entendimento, houve nesse momento outra extraordinária coincidência: a quase contemporaneidade da convivência entre cinco gênios, dentre outros, que, com as ideias lançadas nas ilhas Jônicas, deram um gigantesco passo para o desenvolvimento da ciência.

Nicolau Copérnico (1473-1543): protagonista da Revolução Copernicana ou devemos dizer Revolução Científica? Após vários séculos com a humanidade aceitando o geocentrismo (Terra no centro), o que também induzia ao antropocentrismo, o cônego da igreja católica, matemático e astrônomo polaco Nicolau Copérnico, lança a teoria do heliocentrismo (Sol no centro do Sistema Solar) no seu livro ( publicado após sua morte) De revolutionibus orbium coelestium. Mesmo que seus antecessores como Pitágoras, Platão, Aristarco de Samos e outros já defendessem o heliocentrismo, o trabalho de Copérnico deu início à astronomia moderna e é um dos mais importantes tratados científicos de todos os tempos.

Tycho Brahe (1546-1601): foi o primeiro a realizar observações astronômicas sistemáticas e precisas. Desenvolveu um método para corrigir os efeitos da refração atmosférica nas observações astronômicas. Possuía a maior quantidade e melhor qualidade de observações astronômicas, o que o levou a descobrir anomalias nas órbitas planetárias até então desconhecidas. Isso contribuiu, em muito, para o seu contemporâneo Johannes Kepler formular três leis da mecânica celeste.

Johannes Kepler (1571-1630): físico e astrônomo alemão, formulou as três leis que regem o movimento planetário, foi um dos gigantes da ciência. Com base nas observações de Marte feitas por Tycho Brahe, Kepler formulou as duas primeiras leis. Em 1619, publicou Harmonices Mundi, que já citava a terceira lei descoberta por ele em 1618. Em 1604, Kepler observou uma supernova na constelação de Ophiucus, ele viu o fenômeno junto a Saturno, Júpiter e Marte, que estavam próximos no plano celeste. Deve-se também a Kepler, dentre outras contribuições para a ciência, importantes descobertas na óptica física no que se refere à passagem da luz por sistemas de lentes.

Galileu Galilei (1564-1642): outro gigante da ciência! Considerado o pai da física experimental. Vamos esclarecer dois erros que ainda vemos nos livros didáticos atuais: Galileu não inventou o telescópio como muitos pensam! Credita-se ao holandês Hans Lipperhey a construção da primeira luneta. O outro erro é sobre a famosa frase: “e por si ela se move”. Galileu nunca falou isso!

Mas foi Galileu Galilei o primeiro a apontar um telescópio para o céu em 1609, promovendo assim a difusão pública da observação astronômica. A partir daí construiu outros telescópios e fez várias descobertas importantes: as crateras da Lua, as fases de Vênus, as primeiras imagens dos anéis de Saturno (as quais ele não tinha noção do que se tratava), as manchas solares e, em janeiro de 1610, descobre as quatro maiores luas de Júpiter e seus movimentos em torno do planeta. Com as observações das fases de Vênus e as luas de Júpiter, ele teve a certeza de que a Terra não era o centro do universo.

Sobre Galileu, o professor doutor Iran Carlos Stalliviere Corrêa (UFRGS) escreve: “Por suas afirmações, Galileu foi julgado e condenado por heresia em 1633. Sentenciado ao cárcere, Galileu, aos 70 anos, renega suas conclusões de que a Terra não é o centro do universo e imóvel. Apenas em 1822 foram retiradas do índice de livros proibidos as obras de Copérnico, Kepler e Galileu. Em 1980, o Papa João Paulo II ordenou um reexame do processo contra Galileu, o que eliminou os últimos vestígios de resistência, por parte da igreja católica, à revolução copernicana. Não se deve esquecer que foram os grandes observadores e teóricos dessa época, como Hevelius, Huygens e Halley, que ajudaram a erguer a nova astronomia”.

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